Frederico Mendonça de Oliveira
Ainda traumatizado pela disfunção erétil na última queca tentada com sua gentilíssima, alvíssima e rechonchuda Maria naquela tarde invernal em Lisboa, Manuel chegou a sua casita no arraialito entre as montanhas sul-mineiras e encontrou mais problemas ainda que os que deixara ao partir para sua viagem de avaliação urbanística consultando gênios de ultramar na especialidade. Ele, que voltou bastante confuso, agora realmente não podia entender o que pretendem os montanheses no arraial, especialmente por se negar a admitir que se meteu numa região onde crescentemente vai se instalando uma burrice e uma falta de honestidade sesquipedais... e que a grande maioria dos cidadãos adere ao que possa haver de pior em se tratando de coisas que compõem a vida em comunidade. Enter.
Começou a estranheza quando viu que o espaço passou a ser usado, pelas manhãs, como ponto de reunião de amas com fedelhos d'outros ventres, e mesmo com putinhos (meninitos, em Portugal) e as que os pariram de verdade. As criaturas se instalavam nos bancos a conversar e seguramente falar da vida alheia, especialmente das vidas nas casas das patroas – no caso das amas – ou dos problemas das amigas – no caso das mães de verdade. Os fedelhitos, por sua vez, se esparramam pela grama e por entre as árvores a gritaire como loucos, como se estivessem sob a ameaça de tomar uma pica (injeção) no cu (não é chulo, mas lusitanismo para bunda) ou levar pontos sem anestesia em algum talho feio. “Por que diabos estes putinhos gritam como que enlouquecidos de horroire?”, pergunta-se o Manuel com dor de cabeça gerada pela gritaria infantil. Chegou-se ao jardim e perguntou às criaturas adultas se não podiam conter a gritaria infernal dos putos, ao que foi recebido com desdém pelas recalcitrantes, como se fosse um louco inconveniente que estivesse incomodando a alegria alheia. Enter.
Mais impressionado ficou quando uma tarde verificou que chegava um maluquete de baixa estatura – todo baixinho é f*– comandando um bando de adolescentes e trazendo uma montoeira de balões amarelos que foram pendurados nas árvores para dar clima de festa. Demoraram-se por lá horas, fazendo um esporro dos diabos, especialmente porque algumas das raparigas subiam e desciam a passarela de patins, e gritavam besteiras umas para as outras, e aquilo estava virando um inferno. Acabou que se foram, os imbecis sem local para farra, e a calma voltou ao espaço. Dias depois, o mesmo baixinho meio abestalhado chegou com petrechos para brincadeiras, e reuniram-se dezena e pouco de crianças, e o sujeitinho conduziu brincadeiras como corridas de sacos, pique-cola e outras atrações – só que promovendo uma gritaria infernal entre os fedelhos estupidificados pela excitação. Esta sessão de gritarias começou às duas da tarde. Manoel saiu de casa às 18h30 e a coisa ainda estava ocorrendo. Pois Manoel ligou sua guitarra portuguesa eletrificada e tocou fados altíssimo, para fazer frente à algazarra infernal. Quando saiu, foi alvo de troças e acusações. Ignorou e seguiu seu caminho. Enter.
Numa terceira ocasião, eis que numa sexta-feira, chegava ele a sua casa quando verificou que chegava também o baixinho e outro bando de fedelhos todos fantasiados. Manoel gelou, mas ocorreu-lhe de ligar para um advogado amigo a quem tinha já relatado os fatos, e este advogado sugeriu que nosso herói fotografasse a reunião, para possíveis posteriores iniciativas. No que Manuel despistadamente tentou tirar fotos por entre a folhagem de seu jardim, viu-se alvo de vitupérios, insultos, vaias, o que o fez sair à rua e fotografar abertamente o baixote e os fedelhos todos fantasiados. O baixote até lhe dirigiu insultos diretamente, quando Manuel, subindo-lhe o sangue ao quengo, reagiu, perguntando ao baixote, às mães, e a quem pudesse ouvir, se eles não tinham o que fazer, se não tinham casas e se não tinham percebido que o carnaval acabara na quarta-feira de cinzas, que fora dois dias antes. Pois o baixinho e as cabeludas se reuniram num bolo de conluio, houve até quem perguntasse a respeito de o Manuel poder fotografá-los assim. E dissolveu-se a baderna. Enter final.
Semana que vem, mais um episódio de “As desventuras de um lusitano imigrado”, que deve ser lido, para maior desfrute de legitimidade, em sotaque lusitano. E viva Santo Expedito! Oremos, pois. Adeuzinho, gajos e saloias!