quinta-feira, 16 de maio de 2013

O derradeiro adeus às esperanças






O sintoma que mais define o fim de qualquer coisa para nós cara é um decair de interesse por ela ou, de outra forma, o desinteresse repentino. Você vai constatando gradativamente que a coisa se estraga, e acaba que você não tem outra alternativa que não a de dar de ombros e virar as costas. Assim, vendo a nova cara do PT – ou a verdadeira, que era ocultada por uma proposta falsa, a pele de cordeiro no lombo do lobo –, eu me incompatibilizei com a linha do partido e depois o fui esquecendo por descartamento escatológico: merda não interessa. A menos que para adubar a terra, e olhe lá. Mas acontece que o Lobão, que você deve conhecer, lançou um livro aí. E ele mete o pau em todo mundo, parece que ninguém escapa da “metralhadora giratória” do cara. As aspas revelam não ser bem isso. Vi, até onde deu, uma entrevista desse roqueiro meio falastrão e confesso que o nível tende ao rasteiro. Gosto de coisas dele, admiro a musicalidade e tal, mas fico por aí. Meu estômago rejeitou o falatório, um Português vazio, uma visão superficial e até meio emocional de tudo. Mas o Reinaldo Azevedo comprou a briga pró-Lobão por detectar, lá com seus botões, um patrulhamento petralha sujo sobre o cara. Bem, o Lobão deixa claro que está tudo perdido, que não tem mais jeito. E vejo que nesse ponto concordamos. Enter.
Diz o Reinaldo: “Eu sei a patrulha de que fui alvo quando afirmei que Niemeyer era metade gênio (o arquiteto) e metade idiota (o comunista de butique). E olhem que alguns amigos meus protestaram. Há quem considere o arquiteto ainda pior do que o “pensador” porque preso a uma visão stalinista do homem, da cultura e da arquitetura. Parecia que eu tinha roubado o pirulito da boca de uma criança pobre…” Bem, o Niemeyer, como cansei de dizer aqui, só criou monstrengos, especialmente aquela Brasília insuportável, fria e irreal que acabou sendo a sede da maior quadrilha já conhecida na história “defte paíf”, como diz o safardana rei da petezada. “Lobão tem coragem de remar contra a maré vermelha, ao contrário da esquerda caviar, a turma radical chic descrita por Tom Wolfe, que vive em coberturas caríssimas, enxerga-se como moralmente superior e defende o que há de pior na Humanidade. No tempo de Wolfe eram os criminosos racistas dos Panteras Negras os alvos de elogios; hoje são os invasores do MST, os corruptos do PT ou ditadores sanguinários comunistas”. Pois é: remar contra a maré vermelha é banal; aliás, obrigatório, se considerado o nível de miséria intelectual e moral dessa corja desprezível. E vemos que Lobão, despreparado em quase tudo, até no falar, bota suas cartas na mesa sem medo, ao passo que Chico Buarque, um esquerdóide milionário – um dia eu descrevo aqui a casa dele no Jardim Botânico, Rio –, cala – e consente, então – sobre a explosão do descalabro petista, quando deveria vir a público manifestar sua desaprovação para com isso tudo. Mas não faz: fica por aí desfilando a “nova cara”, um maracujá de gaveta em que ainda brilham, desamparados e destoantes, aqueles olhos que causaram tantos suspiros nas malamadas de plantão – e um nariz que vai indo firme em direção a parecer uma berinjela (ou beringela, com g, como quiserem). A propósito, considerando a quase beringela nasal do menestrel das esquerdas tupiniquins, procurei a origem do termo e vi que não há registro dele no Houaiss. O nome científico, entretanto, é Solanum Melongena, e acredito que beringela derive do segundo nome, como carrot vem de Daucus Carota; letuce, de Lactuca Sativa; e arroz, de Oriza Sativa, só para dar alguns exemplos. Tem mais. Enter.
“Compare isso às letras de Chico Buarque, ícone dessa esquerda festiva, sempre enaltecendo os humildes: o pivete, a prostituta, os sem-terra. A retórica sensacionalista, a preocupação com a imagem perante o grande público, a sensação de pertencer ao seleto grupo da beautiful people são mais importantes, para essas pessoas, do que os resultados concretos de suas idéias”. Vá lá. Mas que o Chico é um talento de lei não há negar sem incorrer em grave distúrbio de obtusidade e miopia. O samba Pivete é admirável, poema imperdível, tanto quanto Apesar de Você figura entre os mais importantes sambas de todos os tempos, ao lado de Construção. Mas o pessoal não enxerga valores musicais NUNCA, isso é uma deficiência irremediável entre nós. Somos, os músicos, uma casta em extinção, pois a intervenção internacional conseguiu transformar um país musicalmente gigantesco num deserto sobre cujas areias soam emissões vocais obscenas de imbecis ganibundos liberando guais e melodias e palavras entre o miserável indescritível e o chulo asqueroso. Quanto à postura política do Chico, para mim é problema dele. Eu me garanto com a minha, e devo dizer que até me bate alguma pena desse cara – que tinha por hábito não pagar os músicos que o acompanhavam... Entendeu, ô meu? Então... Enter final.
Desisto de vez. Vejo uma turba de azumbizados entupindo ruas e lojas com suas vestes de espantalho, uma gentuça multitudinária zanzando pelas ruas mais perdida que charuto em boca de bêbado. Eles vagam pespontados por skates e “bicicretas”, tudo misturado como um novo caos obrigatório e para eles natural e até prazenteiro. O meio dos vermes é o pus. E não tem mais jeito. Se destruíram nossa música e nossa cultura, destruíram o Brasil. E as novas gerações, excluindo uma turminha que ainda evolui, mergulham nas trevas da miséria intelectual e moral. Lobão tenta alcançar isso, mas o livro dele – que não li, mas adivinho – é um monte de críticas pessoais a tudo que o desagrada. Não tenho tempo a perder com isso. E a entrevista dele ao Gentili mostra o nível de forma inegável: é rasteiro, emocional e egocêntrico. Ele não investe contra os valores que estão aí, apenas critica pessoas e condutas. Não dá. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!...

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