sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Manoel: viagem sentimental à Terrinha – e babados outros

Frederico Mendonça de Oliveira

Depois de “viajar” de forma literária a Portugal no que mergulhou em uma esplêndida coletânea de contos portugueses que estava em sua biblioteca há mais de 20 anos – a edição era de 1962, a coleção fora adquirida em 1984 – sem ter sido aberto o volume com contos portugueses, Manoel se reencontra com suas origens e acaba vivendo uma das mais gratificantes experiências literárias de sua vida. Os contos se sucediam em maravilha de forma, começando com Padre Manoel Bernardes (Conversões de Filêmon e Ariano), passando por Herculano (O Bispo Negro), encarando Camilo (Aquela Casa Triste), e foi aquela delícia marcada por grandiosa beleza e emoções profundas. Ao concluir a leitura de Camilo (Castelo Branco, óbvio), lendo num ônibus, teve de esconder as fuças, pois as lágrimas caiam em profusão, tão contundente a tristeza ao final... e temeu por seu coração sensível quando, ao ler os contos seguintes, pungentes, deparou ainda com “Uma Visita de Pêsames”, de Ramalho Ortigão. “Este livro vai rebentar meu coração!”, considerou, mas corajosamente avançou. “Depois de tanta tristeza lá vem essa coisa de pêsames, puta merda, assim me matam!”, considerava ele, quando, logo de início, verificou ser o tom do conto diverso. Parecia algo jocoso... e sucediam-se quadros meio cômicos, com pinturas de personagens e situações surpreendendo pela persistente gaiatice. “Ah, entendi, porra: é o Realismo do tempo das Farpas, é a inauguração da irreverência em oposição à idealização romântica”, considerou Manoel, já agora se recompondo na poltrona para ler com outros olhos aquilo que lhe prometia trazer surpresas. E Manoel jamais lera Ramalho Ortigão, embora soubesse dele desde a mais tenra infância. É que nunca lhe caíra nas mãos um texto qualquer desse autor brilhante, jamais vira em qualquer livraria lombada com o nome do cara. Enter.
Pois foi o diabo! Avançando pelo texto, começaram as risadas com situações absurdas e pândegas, com perfis grotescos e ridículos de personagens, até que rolou um episódio de um tombo envolvendo um menino na escadaria da igreja numa festa religiosa, umas meias tingidas grotescamente de vermelho e o nome “rebenta-boi”, relativo à cor das meias. Vale transcrever: “...sentiu segunda vertigem, deu-lhe de chapa a luz do sol poente nos olhos míopes, turvou-se-lhe o juízo e a vista, tropeçou em um dos meninos de coro aninhados nos degraus que sobem para o altar-mor e caiu pelas escadas, juntamente com a espezinhada criança que se lhe atravancara nas tíbias, tão mal empregadamente vestidas da brilhante cor de rebenta-boi!”. Pois logo adiante, ainda na mesma página, Manoel se abestalhou de ler a descrição do cabelo de um dos protagonistas, e pela segunda vez veio-lhe um assomo de gargalhadas, o primeiro por conta do tombo narrado acima. E assim foi, até acontecer o clímax da história, algo jamais pensado: uma pancadaria no velório da mulher do Serafim, pau que começou quando o rival, Eusébio, míope, pensando falar com outra pessoa, falou com o próprio Serafim palavras duras contra este. No auge da pancadaria, chega o padre e informa que a morta não morrera: “Senhores, a pessoa a quem eu vinha lançar a última bênção está viva!”. O quadro pintado a seguir levou Manoel a uma explosão de hilaridade: “Era tão extraordinária esta formal declaração que todos estacaram atônitos, menos Eusébio, o qual, apenas viu luz, imediatamente meteu na cabeça um chapéu que não era dele e desembestou pela porta fora, levando na mão convulsa um braço estroncado ao canapé da sala. Todos os outros, esquecendo-se dos rasgões do fato, do sangue que lhes escorria dos beiços e dos galos que lhes fumegavam na testa, correram de sobressalto à sala oposta”. Enter.
Manoel se contorcia na cama em gargalhadas, que primeiro levaram sua Maria, que estudava apostilas deitada a seu lado, a rir junto, mas que logo a assustaram, pois parecia que Manoel ia ter um troço de tanto rir beirando os urros e gemidos, o rosto banhado em lágrimas. E assim Manoel fez seu début na obra de Ramalho Ortigão, antes tarde do que nunca. E uma alegria nova passou a lhe visitar: mergulhou na obra de Camilo, lendo “A Doida do Candal”, e Eça lhe envolveu em alegria com “Os Maias”, obra que ele começara a ler mas deixara de lado há mais de trinta anos. Enter final.
E viva Portugal, que, mostrando que os brasileiros estão a cada dia mais burros, descriminalizou a maconha, entrando em nova fase histórica depois de décadas e décadas de primitivismo sádico no que alinhava simples consumidores de uma erva fora das estatísticas de homicídio (o álcool está presente em mais de 75% dos homicídios culposos e dolosos) a assassinos e bandidos de toda sorte. Civilização é isso... Acorda, Brasil!! Siga o exemplo da Terrinha! E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

ATENÇÃO: ESTAMOS HÁ 541 DIAS INCONSTITUCIONALISSIMAMENTE SOB CENSURA BAIXADA PELO JUIZ NELSON MARQUES DA SILVA, DE ALFENAS, EM LIMINAR DATADA DE 11/O4/08. INTERPUSEMOS RECURSO JUNTO AO STF E A CENSURA FOI MANTIDA POR SIMPLEMENTE NINGUÉM MENOS QUE O SR JUIZ MINISTRO GILMAR MENDES. A CENSURA SE DEVE AO FATO DE O AUTOR DOS TEXTOS NESTE BLOG ESTAR COM A TRIBUNA DA CÂMARA MUNICIPAL RESERVADA NO DIA 14/04/08 PARA SER APRESENTADA DENÚNCIA DE CORRUPÇÃO ENVOLVENDO O JUDICIÁRIO, O EXECUTIVO E O LEGISTATIVO DE ALFENAS, PARTICIPANDO AINDA O MINISTÉRIO PÚBLICO DA MARACUTAIA, NO QUE O PROMOTOR SE ESQUIVOU DE ABRIR INQUÉRITO CIVIL PÚBLICO DIZENDO-SE "SUSPEITO"!

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