Frederico Mendonça de Oliveira
Auto-exílio é algo raríssimo nesses dias porcos marcados pela lei da conveniência. A Humanidade toda está coisificada, ávida, carente e tentando saciar isso através de comprar, e pululam compradores desde as faraônicas lojas do tipo Daslu até as míseras bibocas de R$1, 99. Vale de cara contar uma piada: uma mulher chega para o marido, que lê seu jornal. São riquíssimos. Ela diz que está deprimida. Ele, sem tirar as fuças de trás do jornal, sugere que ela vá comprar uma nova jóia. Ela recusa, dizendo não aguentar mais tanta jóia. Ele, enfiado no jornal, então sugere que ela troque a BMW esporte por uma Ferrari; ela argumenta que a BMW não tem ainda 50 km rodados. Ele, impassível, cara dentro do jornal, sugere que ela passe um tempo na Europa, mas ela responde que está farta de europeus estúpidos e sem graça. Ele então passa a página e pergunta o que ela verdadeiramente quer. Ela responde: “O divórcio”. Aí ele fecha o jornal e exclama: “Puta merda, não pensei que teria de gastar tanto!”, Sugestivo: a macacada de qualquer classe anda se compensando no comprar (a mulher da piada quer mais...). Já os que negam esses valores, por verem nesse contexto a materialização de um deserto em torno de si, se desincompatibilizam disso criando uma espécie de reclusão preventiva e saneadora, que os livre de presenciar e viver esse cenário deprimente e depravado: o capitalismo selvagem e seus escravos do comprar. E esse auto-exílio não é paraíso, tem seus percalços. Vamos a eles. Enter.
Cansado de viver entre músicos estúpidos e calhordas que “pensam” como jogadores de futebol e tocam com as pernas, o amigo de Manoel veio para estas montanhas, no Arraial das Bagas, atrás de paz e da aventura maior de sua vida: a busca de si mesmo. Não mais isso de acompanhar estrelas da canção multinacional travestida em música popular brasileira, de aturar idiotas ocos e presunçosos, de conviver com traidores cínicos, com pulhas golpistas, com patifes assumidamente sem ética. Basta de tocar musiquetas, mesmo que belas, para “pratéias” de basbaques balançando braços e acendendo isqueiros bic, coisa que hoje virou sessões demoníacas de multidões de humanóides de sexo femninino gritando como macacas histéricas diante de duplas caipiróides cantando miséria sonora a duas vozes. E para não correr o risco de ter de , por necessidades, recair na atividade de acompanhar esses humanóides chapeludos, botinudos e fiveludos, o amigo de Manoel meteu-se nestas montanhas, embora sabendo ser uma comunidade repleta de bugres toscos e até perigosos em sua rusticidade e ignorância de bestas feras “sociáveis”. De resto, no miolo da canção brasileira que ostenta Simones, Betânias e Djavans, ele não encontrou senão gente mais perigosa ainda, porque gente com vícios de poder e grandeza. Portanto, às montanhas. Na verdade, havia filho pequeno e a necessidade de salvar um casamento, e as montanhas oferecem menos risco. Resultado: o cara não salvou o casamento, os filhos aderiram estupidamente à ilusão da canção multinacional, tornaram-se resistentes a cultura e a diálogo, tornaram-se, enfim, aquilo que ele lutou por mais de 20 anos para que não fossem. Enter.
Bela derrota. Pode ser, mas tem beleza. A beleza do cara que renuncia ao ambiente de traição nacional porque a entende como fato; a beleza de conseguir sentir não a pontinha de algodão no manto de seda de que falou Machado, mas o irrespirável fedor de carniça emanando do banquete dos traidores, coisa que lhe causou uma náusea irreversível. Quanto à vitória dos que cagam na ética e para a ética, não passa de uma imunda vitória de Pirro. E o fato de os filhos deste homem destemido se terem deixado dominar e cooptar pelo modelo de parte da família, verdadeiramente uma famiglia, em que abundam abertamente o golpismo e a trapaça como sendo a normalidade, e em que a ética é considerada coisa de otários, para ele não passa de uma confirmação gritante de que os maus avançam porque os bons se omitem. E os filhos viraram peças da engrenagem torpe, completamente iludidos por tolas fantasias de grandeza e completamente equivocados com base na ação coercitiva de um fascínio do tipo “os olhos da cobra verde”, irresistíveis. E os anos vão passando, e nada de acontecer o que eles sonham, e o pai, amigo do Manoel, agora lava as mãos depois de sofrer até injúrias e desprezo dos filhos, que chegaram a rejeitar publicamente o nome paterno. E acabaram virando uns “filhos de Francisco”, pífio troféu dessa vitória pírrica. Enter.
O amigo de Manoel confidenciou a este passagens hediondas vividas nessa roda, e os espectadores, aboletados em assentos que comprimem hemorróidas e partes sexuais viciadas ou mal usadas e/ou lavadas, babam sorvendo a luta, combate de um homem assumido e consciente contra um bando de fariseus chulos, e o sadismo de ver o possível massacre embala esses espíritos de caráter atroz. Mas o amigo, não podendo se esquivar ao enfrentamento definidor de postura moral, que não admite qualquer acordo, está mais decidido e mais afiado em sua sanha saneadora do que nunca. Os aliados e/ou cooptados desse bando ficam todos sobre o muro, segundo eles mesmos, mas estão é do lado mais forte, por deformidade de índole, sem qualquer pejo. A conveniência os conduz para o que eles classificam de lado mais forte e mais cômodo. Enter final.
Pobres catrumanos! Não vêem que o lado mais forte é sempre o lado do bem!! E vão emporcalhando suas vidas com aderir à causa da covardia e da discriminação, vão se associando a crimes, e ainda tecem “reflexões”. O pior de tudo, entretanto, é ver que os pivôs dessa guerra, os filhos do amigo, estão seguramente para sempre arrebentados. Não há mais tempo de se salvarem do inferno que assumiram como sendo um céu. Auto-exílio não salva pecadores... E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
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