Frederico Mendonça de Oliveira
“Quem é burro peça a Deus que o mate e ao diabo que o carregue!”, dizia a aguerrida avó de Manoel, Virgínia Ferreira de Mendonça. A mulher, além de ser um dínamo, um trator, era chegada a um astral porradeiro: nasceu levando pancada grossa, hábito muito difundido em sua terra natal, Torres Vedras, ao norte de Lisboa. E deu prosseguimento à usança espancando os filhos, inclusive Manoel. O pai de Manoel, também Manoel de pia batismal, genro da Virgínia e homem da paz, da arte e do bembão, considerava ser a método educacional daquela gente a “lei do tamanco”. Mas a filosofia da educação pela porrada incluía coisas como “Enquanto o pau vai e vem o lombo descansa”, ditado de conteúdo paliativo no que respeita a hábitos violentos no trato familiar e alhures. Mas essa abertura se desvia do rumo da reflexão de Manoel às vésperas desse paradoxo universal, por muitos considerado coisa de português; por outros, de baiano; para Manoel, lamentada a falta de possibilidade de inverter esse quadro, coisa de brasileiro. Enter.
Minoria irrisória num país em que um pinguço baixa lei restringindo uso de bebidas alcoólicas para motoristas e de um apedeuta que sanciona uma reforma ortográfica, ambos conjugados na mesma pessoa do “presidente” da República das Chicanas e Maracutaias, vulgo Brasil, Manoel não se intimida: “Sou mais eu que essa macacada toda, que mija na lei que protege o cidadão como sendo isso uma façanha, quando não passa de um suicídio de natureza típica de quadrúpedes vestidos e apoiados nos quartos traseiros”. Aliás, continua Manoel em sua abordagem filosófica da burrice: “Os macacos também ficam de pé – e me parecem mais razoáveis e sensatos que os brasileiros em geral.”. Enter.
Certo, Manoel: afinal, quem transgride a lei sem saber o que faz não deixa de pagar por isso. Mas, outra burrice, quem o faz de caso pensado, premeditadamente, normalmente não sofre sanções como o criminoso inadvertido. Se um juiz comete um crime, caberia impor a ele uma punição implacável, impiedosa – porque um homem da lei cometer crime impõe que se lhe imputem penas exemplares... ao passo que, no Brasil, juízes fazem o diabo na cara de todos, e nada os atinge, são beneficiados por aquilo que o Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, corrupto cabal, inaugurou nesta Pindorama Alucinada: blindagem. Seria burrice oficial o poder constituído estimular a corrupção e o desrespeito frontal às leis, mas é isso que se promove direto e reto no Brasil. Burrice digna de fazer um asno zurrar de perplexidade e de temor por estar com as quatro patas plantadas nesta terra de pirados. Vide a vergonha que se abate na mais alta corte do País, o STF: o presidente da casa leva uma carraspana de um dos ministros, que o desmascarou diante do mundo através das imagens divulgadas no You Tube. Também, pudera: esse ministro-chefe é um chicaneiro notório, ultimamente tornado famoso também pelos dois apoios dados ao arquitrambiqueiro Daniel Dantas, de ingloriosíssima memória. Enter.
Pois um amigo de Manoel recorreu ao Supremo por ter sido censurado pelos membros da Justiça do arraial. Eram favas contadas, mas... o exmo sr. ministro-chefe do STF, o mesmo que levou a mijada em regra do outro ministro, manteve a liminar de censura. E essa censura nada mais é que uma ordem judicial espúria no que proíbe um cidadão honesto de denunciar barbaridades praticadas por autoridades de diversos estamentos do poder no arraial. Tudo isso cheira a feno, a excrementos de muares, e os latidos de cachorros abandonados estupidamente nos quintais do bairro mais surrealista do arraial substituem os zurros que deveriam imperar 24 horas por dia nesse município, que por sinal é descrito com fera mordacidade na Desciclopédia. Enter.
E a burrice chega ao âmbito do bucólico: a tal pracita maldita, que empilhou uma série de crimes para que exista de fato sem existir de direito e para gáudio dos que se beneficiaram da maracutaia e alegria trêfega dos asininos seres que dela se beneficiam – se é que descer ao nível da estupidez e dos hábitos das periferias onde pululam descamisados é benefício para alguém... –, a tal pracita hoje reúne batatas de sofá que fazem suas bundas variar de assento. É uma opção para essas quadrupedâncias... que deixam a televisão em casa e vêm falar sobre novelas e sobre vidas alheias no ambiente escuso de um espaço envolvendo crimes de prevaricação, de responsabilidade e ainda exibe uma improbidade administrativa. Esses seres devem considerar o espaço algo ideal: fruto de corrupção para benefício de cérebros de frango de granja. Neste caso especial, Manoel se vê acachapado com o fato de o morador legalista estar coberto de razão quanto à falcatrua e ser ele exatamente a vítima da sanha sádica dessa ralé cuja marca maior é a exibição agressiva da própria ignorância e o comprazimento em perseguir um único ser honesto e viril no enfrentamento dessa tramóia. “Quanta beleza!”, exclama consigo Manoel, “as estrebarias em que se ajaezam bestas no interior de Portugal deveriam mandar seus cavalariços aqui, para contemplar o que seja ‘espírito de estrebaria!’” Enter final.
Pois ficamos assim: fechamos o artigo contendo a reflexão de Manoel sobre a burrice considerando o feriado de 1º de Maio. Comportaria isso uma consideração? Sim, acredita convicto nosso herói: “Se fosse Dia do Descanso todos trabalhariam? Então, sendo dia do trabalho, por que todos descansam? Não é outro paradoxo que nos faz considerar que a burrice está de vez instituída não só no Brasil, mas no mundo inteiro??” E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes! See you later!
Um comentário:
Gostei do texto que tive oportunidade de ler ( o estilo) quando morei em 1997 em Pçu. Eu dava aula no colégio ( finado) promove e ficava em Pçu ouvindo a abençoando a radio de Unifenas.
Escreve bem.
Linquei seu blog.
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