quarta-feira, 18 de março de 2009

“Enquanto o pau vai e vem...

Frederico Mendonça de Oliveira

...o lombo descansa”. Assim Manoel vai pensando sobre como aguentar (agora, sem trema) a contradição entre ficar no arraialito entre as montanhas sul-mineiras ou voltar para sua santa terrinha de Portugal, passando seus últimos tempos de vida na tradição em que se conheceu. Pois ocorre que, na faina de organizar coisas, fazer balanços, refletir sobre o tremendo “vai ou fica?” em que hoje se vê metido, eis que recebe a visita de uma portuguesinha que veio a esta colônia com uma brasileira que vive em Lisboa e que tem a família por aqui mesmo. A graça da menina é Luísa, e o nome combina com a belezinha apequenada e roliça dela, e tem aquela coisa do sotaquezinho, aquela falazinha gostosa e rascante como um vinhozinho seco e um bacalhau assado com azeite e muitas cebolas, batatas, pimentão, ovo cozido e tomate – e depois, quem quiser que se aguente (agora, sem trema) com a peidorrada. Enter.
Falava-se sobre as coisas do Brasil e de Portugal no encontro com a menina, todos sentados à mesa da copa-cozinha, Manoel encostado na pia, como sempre, tomando sua cerveja enquanto sua amada Maria ia servindo gostosuras pra menina e para os outros visitantes jovens. Pois deu-se que foi citado um nome de uma pessoa conhecida de todos, um nome escalafobético, e a menina Luísa se abestalhou com aquilo. “Que diabo de nome é iêsse?”, perguntou, cenho levemente franzido pela incredulidade. Começou aí uma discussão sobre os nomes dos brasileiros hoje, em que abundam combinações absolutamente insanas. O nome da tal pessoa era Tahyane, ou Rahiane, uma dessas duas coisas. Logo foi lembrado o nome da atleta brasileirinha Daiane, que até parece nossa portuguesinha depois de dois meses de sol direto e reto. E daí foi: o jogador Ruan; o menino Winterson Panther Cleveland... da Silva, e coisas que tais. Manoel até lembrou o nome da neta, Nastassja Suguie Nakaiama... de Oliveira – nome dado por seu filho e sua nora e que tem razões de ser na cultura japonesa. A estupefação da menina Luísa, com seus dezoito aninhos recém completos, causava encantamento em todos, porque fazia aflorar um espírito sólido da tradição cultural portuguesa, claro. No Brasil, as criaturas apenas olham asininamente para tudo, porque tudo perdeu sentido, nada mais se baseia em nada. E iam sendo lembrados nomes como Deivid, Deivisson, que são nomes de origem inglesa ou americana escritos aqui através de sua pronúncia. E os bugres acham isso bonito. Enter.
Luísa mostrava-se quase indignada, lembrando que em Portugal isso é proibido, porque seria uma ameaça à tradição cultural e mesmo ao idioma. “Nada de k, y ou w! A preocupação com a preservação do idioma proíbe esse desvio nos antropônimos, pois seria uma porta de entrada de maluquices idiomáticas. E Manoel quedava deliciado contemplando a sensatez lusitana diante de tanta loucura brasileira, considerando inclusive que os brasileiros não respeitam nem a si próprios nem a seus filhos, que condenam ao ridículo ao denominá-los de forma abstrusa. Enter.
Foram lembrados outros nomes não tão estúpidos, como Jacinto Leite Aquino Rego, Joana Porreca, Caio Rolando da Rocha, Um Dois Três de Oliveira Quatro, Rolando Escadabaixo de Andrade, Lançaperfume Rodometálica de Andrade, nomes loucos, mas ainda assim menos dementes que os que imitam pronúncia de nomes americanos. O que aliás diferencia estes daqueles é o fato de estes serem eventualidades de cabeças adoidadas, e serem coisa pontual; já aqueles são um modismo asinino, uma perversão como atitude colonizada, uma loucura linear... Enter.
Pior que isso somente ver mulheres malucas aguando passeio abestalhadamente, cometendo com isso um crime contra seus semelhantes e descendentes, porque desperdiçando água tratada de forma estúpida e atroz, porque não só serão elas as mais capazes de assassinar concorrentes quando a disputa pela água for questão de vida ou morte como também elas demonstram estupidez malsã por não pensarem em seus descendentes. São burras ou malucas? Ou as duas coisas? “As duas coisas, claro!”, pensa Manoel com seus botões. Enter final.
“Estou cá com os pés no Brasil e a cabeça em Portugal”, pensa Manoel contemplando a exuberância elegante e gentil de sua Maria. As bestas vestidas de gente pululam na pracita criminosamente imposta ao bairro e à gente decente da cidade. Os cães latem estupidamente pra todo lado. Luísa se diverte com piadas de brasileiros contadas em Portugal, e Manoel e Maria se olham com amor. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

Um comentário:

Anônimo disse...

Se a Suzi Rego casasse com o Paulo Cesar Grande se chamaria Suzi Rego Grande...

Aquele abraço Fredera!

Parabéns,

Um textasso...

Forte abraço do Joaquim, também saudoso da terrinha e dos tempos em que havia civilização...

Salam Ayek!