Frederico Mendonça de Oliveira
Manoel e Maria foram respirar por algum tempo, na Santa Terrinha, ares menos poluídos que os desta passagem 2010/2011. Uma das razões da ida do casal a seu país: levar a seus conterrâneos as bizarras e chapantes notícias do Brasil, das capitais alagadas e do morticínio solto, e novas do arraial em que vivenciam a suruba anti institucional, a bacanal das autoridades rasgando a Constituição, as leis em geral e se limpando com a Lei Orgânica do Município. Vão apresentar esses fatos a setores de estudos especiais em Portugal, fazendo o trajeto Sul/Norte já para eles de lei: Lisboa, Coimbra, Porto. E cá ficamos dançando o sambalelê na Pindorama, e aproveitamos para encaminhar moção de louvor aos que fazem deste lugar sul-americano um paraíso tropical. Enter.
Obrigados, senhores parlamentares! Estamos todos maravilhados com vocês! Desde seu trabalho incansável, noite e dia de domingo a domingo, pela felicidade do povo e pela grandeza do covil, ops!, país, até seu empenho em solucionar nossos males, buscando nossa renovação moral sempre que põem seus imundos, ops!, santos pés naquele depravado, ops!, sagrado Congresso. Enter.
Nós, esses merdas que só fazemos viver como burros de carga comendo o pão que o diabo sova, temos é que nos curvar maravilhados vendo Suas Excelências cuidarem bem de suas vidas, ao contrário de nós, porcarias vivas, seres sem visão, sem ambição e conformados com flectir as vértebras como se fossem dobradiças, não é mesmo? Somos uns bundões! Bundas sujas!! Como diz o pessoal da Seicho No Ie, “O mundo a meu redor é obra de minha própria autoria”; e eles ainda provam isso por a mais b: “Se me parece que algo ilógico está ocorrendo, não significa que alguém criou um mundo ilógico e o está impingindo a mim. Sou eu próprio que está pintando o meu mundo com a cor chamada ilógica. No mundo de Deus, não existe nada que seja ilógico ou injusto. Tudo que ocorre ao meu redor são imagens ilusórias, que eu próprio criei com o poder da palavra”. Então, se entendi bem, eu, essa besta metida a escrevinhar textículos, eu é que crio meu mundo! Se estou na merda é porque não sei materializar imagens mentais; já nossos adorados pulhas, ops! parlamentares, esses sabem muito bem transformar sonhos em realidade. Então pensam assim: “Eu quero ganhar quase o dobro do que ganho e prosseguir mamando as mordomias do Estado!, e repetem isso sem parar durante as sessões no Lupanar, ops!, Congresso, e logo tudo se materializa. Querem algo mais claro e transparente? A turma da Seicho No Ie sabe o que diz gente! Enter.
Mas têm os eticochatos, claro, que ficam se mordendo de inveja e partem pra falar mal dos nossos lindos pulhas, ops!, congressistas. É o que diz o filósofo e cientista político Roberto Romano, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que “acredita” deve haver comparação dos vencimentos dos congressistas com os vencimentos da população em geral, que está pra lá de distante do nível de vida dos parlamentares: “Eles que reduzam o que recebem, porque não há justificativa para alguém que serve no Parlamento ter tantas benesses. Eles não precisam de reposição de inflação como um trabalhador comum. É uma questão também ética e é muito simples: eles que comparem seus ganhos totais com o que ganha a população média. A natureza da esfera pública não pode ser comparada à da privada.” “Privada”, cientista?? O senhor quer comparar a maravilha da vida dos congressistas a privada??? Privada é onde nós idiotas de zé povinho vivemos, e estamos nessa porque queremos, senhor cientista! Pois é! E esse “pensador” de meia tigela ainda fala mais contra nossos adorados ladravazes, ops! congressistas: “A democracia é cara. Às vezes ela é impagável, sobretudo no Brasil. Os operadores do Estado, nos três poderes, acham que o contribuinte tem o dever de pagar e não receber nada em troca. No caso dos deputados e senadores, não há uma só prova de que eles precisam ganhar mais e manter mordomias. É uma visão que eles mantêm sem preocupação, porque não há prestação de conta. Mas não é ético.” Enter.
Tudo inveja! E ainda fica essa Polícia Federal pegando nossos sudras, ops!, políticos, e fazendo espetáculo de algemas toda hora, como no caso do tucano Cícero Lucena, um homem comparável a um verme, ops!, a um anjo. A coluna do Cláudio Humberto, outro despeitado, mandou essa: “Nome forte - O tucano Cícero Lucena (PB), que foi preso na operação Confraria, da Polícia Federal (2005), deve ser eleito primeiro-secretário do Senado”. DEVE SER SECRETÁRIO DO SENADO, SIM!!!! Ele é um ladrão, ops!, um grande político! Eles dizem que, em julho de 2005, Lucena teve a prisão decretada e foi detido pela Operação Confraria, da PF, por chefiar um grupo com mais sete pessoas participantes de esquema de licitações irregulares e desvio de verbas em obras, envolvendo em torno de R$ 100 milhões quando era prefeito de João Pessoa. Foram todos soltos, mas estão à disposição da justiça e da PF. O processo corre em segredo de justiça. Pois que corra! Não tem nada de ilícito no fato de amigos se reunirem pra ganhar uma graninha a mais! A Polícia Federal tem que mostrar serviço, então fica algemando a turma pra mostrar que está trabalhando duro, mas isso é só encenação! Tanto é que nosso antigo secretário de Planejamento da lindíssima Paraíba está aí soltinho da silva e desfilando seu semblante de homem público inteiramente voltado para o bem de todos e felicidade geral da mancebia, ops!, nação! Enter.
E agora a vítima é o lindo senador Álvaro Dias, aquele pãããããããão, porque requereu aposentadoria como governador que foi do Paraná. Estão gritando loucamente pra todo lado porque o lindãããããããããão solicitou ao governo do Estado o pagamento retroativo de cinco anos da aposentadoria de R$ 24,8 mil concedida a ex-governadores. Se tudo der certo, o lindo senador embolsará cerca de R$ 1,6 milhão. E quem não gostaria de beliscar uma dessas????... E o chato do Cláudio Humberto, cometendo erro no título da matéria – ele diz Escafedeu, mas o verbo é pronominal! –, ainda cutuca o fiofó de outro lindo, o senador Pedro Simon, porque descobriram sua aposentadoria de ex-governador (R$ 24,1 mil/mês); e diz que o lindo senador gaúcho desapareceu. Claro, queria que ele sofresse a inveja odiosa das hienas soltas por aí? Enter final.
Olhem bem, estúpidos como eu: um parlamentar custa POR MÊS aos cofres público APEEEEEEEEENAS R$ 130.378,87. Uma merreca! Cada brasileiro não desembolsa nem UM CENTAVINHO por mês pra pagar todos eles, que devem somar, em custo total, R$ 78.226.800,00, o que significa um custo de menos de R$ 0,30 por mês para cada cidadão neste randevu, ops! país! Convenhamos, é muuuuuuuuuuuuuuuuuuito pouco! E o Tiririca, esse depravado, ops!, iluminado, fez um comentário lindo sobre o aumento: “Dei sorte.” E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 997 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 546 dias também sob mordaça...
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
terça-feira, 18 de janeiro de 2011
Manoel e o caos instalado
Frederico Mendonça de Oliveira
“Seria só no Brasil, ó Maria? A situação que enfrentamos parece ter similares somente nos Haitis da vida, na África mais atrasada e carente, nos confins do mundo onde parece que a turma vive no purgatório de que nos falavam naquelas aulas de catecismo!”, comenta Manoel com os olhos úmidos depois de considerar as horrendas imagens do Rio e da região serrana, fotos do caos instalado, onde o horror parece que chegou para ficar. “Ano passado, ó Maria, aquele deslizamento em Angra sugeria que o bicho estava indo em direção aos ricos, mas os pobres são a maioria vitimada nesta nova edição da insistente tragédia que parece querer ser o carnaval às avessas!”, considera meio indignado nosso herói, reiterando seu horror para com o panorama da vida carioca e brasileira. “A cobertura da imprensa já largou o tom de sensação, já trata a coisa como se ‘tudo já estivesse se ajeitando’ para mudarem de assunto deixando o miserê pra lá e voltarem para seus veios amenos de arrecadação: futebol, carnaval, BBB, famosos internacionais, tititis e cocôs escandalosos envolvendo figurões. O que se pode esperar disso? Só a fúria dos elementos mesmo!...”, conclui Manoel entre consternado e um tanto irado. Maria toca a casa, e a desgraceira não a tenta ao silêncio. Parada e com a curvilínea e generosa anca encostada na pia em que lidava, preparando o almoço que combina religiosidade com delícia, ela crava os lindos olhos em Manoel. Parece que hesita em falar, como quem considera se deve abrir o lindo bico, preocupada com sempre melhorar a vida com boas palavras e com preservar o silêncio. Enter.
Mas urge tomar posição nisso, porque não só para ela, mas para todos, parece que o horror se avoluma e se mostra crescentemente ameaçador. Considerando as avaliações “político-científico-históricas” emitidas pelas primeiras páginas dos jornalões – que é o que o casal suporta enfrentar, claro: não perderiam seu precioso tempo nem cansariam suas doutas cucas enveredando por publicações escritas por estúpidos no geral e dirigidas por pilantras cínicos no essencial –, nossa heroína acaba que opta pelo posicionamento. E dispara, suave mas incisiva: “Ó Manoel, eu não posso mais ter esperanças em que Deus vá dar um jeito nisso. Basta olhar para os aglomerados de gente nas encostas, nos morros, basta constatar uma superpopulação desordenada e em crescimento assimétrico e desmedido, isso nos dá como que uma sentença: não tem mais remédio tamanha desarmonia social em todos os sentidos. O fator quantidade, esmagador, brecou qualquer esperança de qualidade regeneradora para esse crescente e aterrador caos humano e social. O que sanearia o somatório de favelas no Rio e em São Paulo, por exemplo? Qual é a proporção entre favelados e não favelados a essa altura do campeonato? Qual a possibilidade de regeneração social do cancro incrustado no urbano que são as favelas e seus desdobramentos em todos os sentidos? E, pior que isso: como administrar toda a gama de desvios dessa distorção que é a miséria instalada em tamanha dimensão e profundidade no corpo vivo das cidades? Isso é ‘normal’ ou trata-se de uma situação de patologia social galopante?”, pergunta Maria com olhos lindamente alarmados, aparentando peso no coração, condoimento diante de tão adverso quadro humano. Enter.
E acaba que o bicho pega, a linda Maria não se reprime: “Ó Manoel, solução viável em termos sociais e humanos para isso não existe, o quadro é de todo irreversível. É como um imenso móvel quase todo carcomido por cupins: não há como erradicá-los – e não se erradicam favelas!! – sem que o móvel sofra dano irreparável em sua estrutura. Isto porque na verdade essas coisas estão cosmicamente associadas, não é por acaso que as favelas tais envolveram urbes tais. E não é nada de descaso de autoridades nem baboseiras outras: isso é o karma coletivo dos brasileiros, como é a desgraça na América Latina e na África, e o momento do pega final se aproxima ameaçador, e lamentavelmente é assim mesmo. Ninguém está livre disso! Lamentamos pela sorte dos que caíram sob as avalanches de lama e pelo furor das águas, mas sabemos que devemos botar as barbas de molho! Já que ninguém sabe o que fez nas vidas passadas, porque somos ‘esquecidos’ de nossos atos pelos senhores do karma para que entremos nesta vida inocentes, ninguém terá qualquer certeza do que lhe possa suceder nesta vida até o último suspiro. Então, ó Manoel, é necessário sabermos, através dessa visão da lei divina e de nossa impotência, que ISSO é a verdadeira humildade!, e só assim nos harmonizaremos com as leis imutáveis!”, conclui Maria, os olhos úmidos de amor e compreensão, o coração pulsando pelos irmãos que sofrem o horror atual. Enter.
“Pois veja, ó Maria: um certo verdureiro espírita do arraial, tido como ‘sacerdote’ no centro em que trabalha, um belo dia veio falar da ‘humildade de Jesus’. O fundamento para a humildade do Cristo para esses seres é a história do oferecimento da outra face. Equivocados! Presunçosos! Será que eles acham que o Cristo gostava de apanhar? Será que não percebem a superioridade e o desafio que seria provocar o agressor com forçá-lo a prosseguir agredindo, fazendo-o cair em ridículo? Diga-me, ó linda, em que momento o Cristo se mostrou humilde nos Evangelhos, senão quando revelava o vínculo cósmico?! E como se explicaria, aos olhos desses equivocados, a investida violenta contra os vendilhões do templo? Momento de loucura?? A verdadeira humildade está na demonstração da lei de ação e reação: ‘Quem com ferro fere com ferro será ferido’, e nas Bem Aventuranças, em que também Ele traça um painel de equilíbrio cósmico, da Lei Universal da Perfeição, que é Deus. E, claro, isso não significa cruzarmos os braços: a solidariedade por nossos irmãos atingidos é fundamental, é aperfeiçoamento, porque devemos LUTAR CONTRA O KARMA, vide o mito de Laocoonte, o profeta de Tróia. As catilinárias lançadas sobre as autoridades responsáveis por isso não passam de desabafos, e até procedem. Mas NADA PODE ALTERAR O QUE ESTÁ ESCRITO, isso é inegociável. Podemos tentar acelerar a evolução, sim, mas isso implica em dedicação suprema, o que é muito difícil ou impossível de fazermos nesse contexto!”, considera Manoel, voz meio surda, engasgada, para sua Maria. Enter final.
“É irreversível, Manoel, está feito! Para estudiosos isto seria resultado a longo prazo da ação da TV Globo e congêneres, intervenção por dentro dos lares, assim teria sido feito tudo. Como respostas sociopolíticas para explicar o inexplicável, é prato feito. Mas a realidade essencial, imaterial, que preside os inferiores 'fatos objetivos', vem do cosmo. Rumamos para a grande desmaterialização, e virá a purificação, a volta à essência de tudo, e isso é só com Deus”, fecha Maria a questão, olhos líquidos e brilhantes, vibrando puro amor. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 990 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 539 dias também sob mordaça...
“Seria só no Brasil, ó Maria? A situação que enfrentamos parece ter similares somente nos Haitis da vida, na África mais atrasada e carente, nos confins do mundo onde parece que a turma vive no purgatório de que nos falavam naquelas aulas de catecismo!”, comenta Manoel com os olhos úmidos depois de considerar as horrendas imagens do Rio e da região serrana, fotos do caos instalado, onde o horror parece que chegou para ficar. “Ano passado, ó Maria, aquele deslizamento em Angra sugeria que o bicho estava indo em direção aos ricos, mas os pobres são a maioria vitimada nesta nova edição da insistente tragédia que parece querer ser o carnaval às avessas!”, considera meio indignado nosso herói, reiterando seu horror para com o panorama da vida carioca e brasileira. “A cobertura da imprensa já largou o tom de sensação, já trata a coisa como se ‘tudo já estivesse se ajeitando’ para mudarem de assunto deixando o miserê pra lá e voltarem para seus veios amenos de arrecadação: futebol, carnaval, BBB, famosos internacionais, tititis e cocôs escandalosos envolvendo figurões. O que se pode esperar disso? Só a fúria dos elementos mesmo!...”, conclui Manoel entre consternado e um tanto irado. Maria toca a casa, e a desgraceira não a tenta ao silêncio. Parada e com a curvilínea e generosa anca encostada na pia em que lidava, preparando o almoço que combina religiosidade com delícia, ela crava os lindos olhos em Manoel. Parece que hesita em falar, como quem considera se deve abrir o lindo bico, preocupada com sempre melhorar a vida com boas palavras e com preservar o silêncio. Enter.
Mas urge tomar posição nisso, porque não só para ela, mas para todos, parece que o horror se avoluma e se mostra crescentemente ameaçador. Considerando as avaliações “político-científico-históricas” emitidas pelas primeiras páginas dos jornalões – que é o que o casal suporta enfrentar, claro: não perderiam seu precioso tempo nem cansariam suas doutas cucas enveredando por publicações escritas por estúpidos no geral e dirigidas por pilantras cínicos no essencial –, nossa heroína acaba que opta pelo posicionamento. E dispara, suave mas incisiva: “Ó Manoel, eu não posso mais ter esperanças em que Deus vá dar um jeito nisso. Basta olhar para os aglomerados de gente nas encostas, nos morros, basta constatar uma superpopulação desordenada e em crescimento assimétrico e desmedido, isso nos dá como que uma sentença: não tem mais remédio tamanha desarmonia social em todos os sentidos. O fator quantidade, esmagador, brecou qualquer esperança de qualidade regeneradora para esse crescente e aterrador caos humano e social. O que sanearia o somatório de favelas no Rio e em São Paulo, por exemplo? Qual é a proporção entre favelados e não favelados a essa altura do campeonato? Qual a possibilidade de regeneração social do cancro incrustado no urbano que são as favelas e seus desdobramentos em todos os sentidos? E, pior que isso: como administrar toda a gama de desvios dessa distorção que é a miséria instalada em tamanha dimensão e profundidade no corpo vivo das cidades? Isso é ‘normal’ ou trata-se de uma situação de patologia social galopante?”, pergunta Maria com olhos lindamente alarmados, aparentando peso no coração, condoimento diante de tão adverso quadro humano. Enter.
E acaba que o bicho pega, a linda Maria não se reprime: “Ó Manoel, solução viável em termos sociais e humanos para isso não existe, o quadro é de todo irreversível. É como um imenso móvel quase todo carcomido por cupins: não há como erradicá-los – e não se erradicam favelas!! – sem que o móvel sofra dano irreparável em sua estrutura. Isto porque na verdade essas coisas estão cosmicamente associadas, não é por acaso que as favelas tais envolveram urbes tais. E não é nada de descaso de autoridades nem baboseiras outras: isso é o karma coletivo dos brasileiros, como é a desgraça na América Latina e na África, e o momento do pega final se aproxima ameaçador, e lamentavelmente é assim mesmo. Ninguém está livre disso! Lamentamos pela sorte dos que caíram sob as avalanches de lama e pelo furor das águas, mas sabemos que devemos botar as barbas de molho! Já que ninguém sabe o que fez nas vidas passadas, porque somos ‘esquecidos’ de nossos atos pelos senhores do karma para que entremos nesta vida inocentes, ninguém terá qualquer certeza do que lhe possa suceder nesta vida até o último suspiro. Então, ó Manoel, é necessário sabermos, através dessa visão da lei divina e de nossa impotência, que ISSO é a verdadeira humildade!, e só assim nos harmonizaremos com as leis imutáveis!”, conclui Maria, os olhos úmidos de amor e compreensão, o coração pulsando pelos irmãos que sofrem o horror atual. Enter.
“Pois veja, ó Maria: um certo verdureiro espírita do arraial, tido como ‘sacerdote’ no centro em que trabalha, um belo dia veio falar da ‘humildade de Jesus’. O fundamento para a humildade do Cristo para esses seres é a história do oferecimento da outra face. Equivocados! Presunçosos! Será que eles acham que o Cristo gostava de apanhar? Será que não percebem a superioridade e o desafio que seria provocar o agressor com forçá-lo a prosseguir agredindo, fazendo-o cair em ridículo? Diga-me, ó linda, em que momento o Cristo se mostrou humilde nos Evangelhos, senão quando revelava o vínculo cósmico?! E como se explicaria, aos olhos desses equivocados, a investida violenta contra os vendilhões do templo? Momento de loucura?? A verdadeira humildade está na demonstração da lei de ação e reação: ‘Quem com ferro fere com ferro será ferido’, e nas Bem Aventuranças, em que também Ele traça um painel de equilíbrio cósmico, da Lei Universal da Perfeição, que é Deus. E, claro, isso não significa cruzarmos os braços: a solidariedade por nossos irmãos atingidos é fundamental, é aperfeiçoamento, porque devemos LUTAR CONTRA O KARMA, vide o mito de Laocoonte, o profeta de Tróia. As catilinárias lançadas sobre as autoridades responsáveis por isso não passam de desabafos, e até procedem. Mas NADA PODE ALTERAR O QUE ESTÁ ESCRITO, isso é inegociável. Podemos tentar acelerar a evolução, sim, mas isso implica em dedicação suprema, o que é muito difícil ou impossível de fazermos nesse contexto!”, considera Manoel, voz meio surda, engasgada, para sua Maria. Enter final.
“É irreversível, Manoel, está feito! Para estudiosos isto seria resultado a longo prazo da ação da TV Globo e congêneres, intervenção por dentro dos lares, assim teria sido feito tudo. Como respostas sociopolíticas para explicar o inexplicável, é prato feito. Mas a realidade essencial, imaterial, que preside os inferiores 'fatos objetivos', vem do cosmo. Rumamos para a grande desmaterialização, e virá a purificação, a volta à essência de tudo, e isso é só com Deus”, fecha Maria a questão, olhos líquidos e brilhantes, vibrando puro amor. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 990 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 539 dias também sob mordaça...
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Manoel, a imprensa tantã e o idioma da Pindorama
Frederico Mendonça de Oliveira
“Em grande parte de Minas Gerais, ó Maria, e já eu disse isso em outras ocasiões, usa-se corromper o idioma a partir principalmente da preposição. Mas isso vai se generalizando Pindorama afora como outras deformidades, vai transpondo as fronteiras do estado, é como aquilo de comer dobrado sobre o prato, como bichos – gatos são os únicos elegantes, porque comem abaixados e com cuidado e delicadeza – e com a faca pregada na mão esquerda como extensão do membro. Especialmente por aqui, nestas montanhas apinhadas de pongos vestidos, pobres coitados sob o tacão do sistema prostituidor, a preposição é instrumento de estranhos desvios em diversos sentidos. Mais preocupante ainda é verificar que a metástase avança, e já vemos outras comunidades incorrendo na pinóia, a merda se alastra, e o sistema educativo/cultural nem tchuns. Já vemos de há muito essas cacatuas da mídia eructando estupidezes (ou estupidezas, como você quiser: o Houaiss não consigna o plural do termo, que, sendo substantivo, pode flectir) por entre dentes alvíssimos projetando sorrisos indecorosos: uma certa Maria Cândida recebe chamadas de telespectadores e pergunta: ‘Você tá falando DAONDE?’, e assim vai se emporcalhando tudo, tudo virando entulho, rumo ao lixo generalizado. Mas, pensando bem, que esperar? Tivemos na presidência da República por oito anos um apedeuta, desprezando completamente o idioma, e o Brasil tende mesmo é ao abismo...”, comenta Manoel chegando de sua sofisticada oficina, na edícola, onde acaba de consertar uma panela para a sogra. Maria considera, divertida, a retomada do assunto, e já dá trabalho a sua divinal caixa pensante, olhando, linda. E glosa o mote. Enter.
“Pois olhe, ó Manoel, acabo de passar em revista as primeiras páginas dos jornalões, e dói ver o horror das imagens da fúria das águas. É um desconcerto feio, uma desarmonia que explode, um caos manifestado. Misturadas a isso, notícias frívolas, como Ronaldinho no Flamengo, Hebe desfilando com não sei quem, Charlie Sheen (quem é esse tipo?) fazendo farra com atrizes e perdendo gravação, Amie Winehouse com aqueles cambitos de sabiá, aquele semblante meio de babuíno e aquela música reles, e ainda falam de o autor de uma novela chula global contrariar o público e, pasme, registra-se em primeira página o primeiro beijo ocorrido naquela nojeira de Big Brother Brasil. Com um painel desses, dá até para considerar que os elementos estejam propensos a fúria, injuriados com tanta devassidão”, considera Maria diante de tal bagaceira. Enter.
“Mas ainda vem a turma católica pra cima da Dilma”, acrescenta a linda, “cobrando não sei o que, besteirada, coisa do caos, e registram-se opiniões de objetos vestidos . Observe só: ‘Parabéns a Igreja Católica por esta iniciativa. Se nada for feito para impedir o ímpeto dessas pessoas, o país e o mundo entrará em colápso total em breve. Essas pessoas que postam estes cometários aqui, são os pobres coitados que vivem em mundo que não existe, que é irreal, e não tem nenhuma responsabilidade na vida. Vivem como verdadeiros animais. Não respeitam nada e nem a ninguém’. Então, ó Manoel: de cara, uma crase vai pro saco, e fica um a maluco pro leitor; depois, um erro de concordância e um acento em colapso, talvez por influência de lápis; depois um este que deveria ser esse, seguido de uma vírgula entre sujeito e predicado; depois, um tem plural sem acento – talvez os filólogos petistas queiram o fim dos acentos, pra facilitar a vida deles; pra finalizar, uma preposição desnecessária, mas que ajuda a empenar a fala. E vêm outros comentários, dolorosos em sua forma: ‘Mobilizar a opinião pública contra instituições sérias que defendem suas opiniões, é simplesmente querer atestar insanidade aos cidadãos de bem’. Esse aí, meu caro Manoel, é possivelmente esquizofrênico: bota vírgula entre oração subjetiva e principal com valor predicativo, ou seja, racha a si próprio ao meio. E outro ainda: ‘Incrível, mas acho que essas pessoas não tem mais o que fazer. Que tal usar toda essa energia para ajudar o próximo, hein? Milhares de pessoas estão precisando de ajuda nas cidades afetadas pelas chuvas.Ah, me esqueci que ser católico não tem nada a ver com amar o próximo...’... Veja só: uma troca de tapas verbais estúpidos, recheados de mancadas: aparece de novo um tem plural sem acento; a forma hein é rejeitada pelos filólogos, que preferem hem; e o fecho é com um escorregão conceptivo: esquecer, em forma pronominal, impõe o uso da preposição de”, comenta Maria com olhar sério e um tanto ausente, superior mas sem empáfia. Enter.
Segundo os iniciados, a convulsão por que passa o mundo é o começo do Armagedon, que seria o evento escatológico, o já temido fim do mundo ou dos tempos; ou, para outras linhas de pensamento, convergentes, a grande purificação. Manoel e Maria, dois estudiosos contumazes, dois apaixonados um pelo outro e pelos estudos, tanto quanto pelos gatos e pela criação de Deus, percebem a grande deterioração em andamento, a marcha da derrocada, e nutrem no coração tanto a esperança confiante na Inteligência como sentem no peito um aperto por pensarem na grande destruição que se avizinha, e que iniciará uma nova era. Então dói nestes dois corações a desagregação de tanta beleza organizada pela mão de Deus e saber que tudo isso, os pássaros, as matas, as flores, os animais, tudo se esfará em fogo e lama, e que dessas formas nada restará. A sequência crescente de desastres ecológicos e os desencarnes coletivos são os sinais do grande desenlace. Também a arrogância dos templos do capitalismo apoiado na usura, a violência das construções de dimensão gigantesca, o desmedido tamanho de aviões que desafiam a gravidade ou de navios que ultrajam a face dos mares, tudo isso a serviço do lucro, do supérfluo ou do desvio da mente humana para a adoração da matéria, tudo será tragado pela fúria dos elementos. Maria e Manoel contemplam tal perspectiva com reverência à grandeza divina, e Manoel considera a irreversibilidade da grande virada lembrando Pietro Ubaldi: “De tudo só restará a idéia!”, cita ele para sua Maria quieta e bela, milagre que Deus deu a nosso herói. Enter final.
“Ó Manoel, nóis vai no supermercado amanhã, que nem nós feiz antes de ônti, mas se ocê quer que eu num vô, traiz pra eu o que era pra mim trazê!”, brinca Maria para um Manoel encantado, pois ela não é dada a troças, especialmente focando terceiros. Mas o amor à correção os faz travessos eventualmente, e os que depredam a si e ao idioma nem sonham que alguém os avalie em oculto. Uma linda saíra azul bica a banana no telhado da edícola sob o olhar vigilante de seu par, azul e negro, o céu sorri. E viva Santo Expedito! Oremos. “Semana que vem nóis se fala!”
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 983 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 532 dias também sob mordaça...
“Em grande parte de Minas Gerais, ó Maria, e já eu disse isso em outras ocasiões, usa-se corromper o idioma a partir principalmente da preposição. Mas isso vai se generalizando Pindorama afora como outras deformidades, vai transpondo as fronteiras do estado, é como aquilo de comer dobrado sobre o prato, como bichos – gatos são os únicos elegantes, porque comem abaixados e com cuidado e delicadeza – e com a faca pregada na mão esquerda como extensão do membro. Especialmente por aqui, nestas montanhas apinhadas de pongos vestidos, pobres coitados sob o tacão do sistema prostituidor, a preposição é instrumento de estranhos desvios em diversos sentidos. Mais preocupante ainda é verificar que a metástase avança, e já vemos outras comunidades incorrendo na pinóia, a merda se alastra, e o sistema educativo/cultural nem tchuns. Já vemos de há muito essas cacatuas da mídia eructando estupidezes (ou estupidezas, como você quiser: o Houaiss não consigna o plural do termo, que, sendo substantivo, pode flectir) por entre dentes alvíssimos projetando sorrisos indecorosos: uma certa Maria Cândida recebe chamadas de telespectadores e pergunta: ‘Você tá falando DAONDE?’, e assim vai se emporcalhando tudo, tudo virando entulho, rumo ao lixo generalizado. Mas, pensando bem, que esperar? Tivemos na presidência da República por oito anos um apedeuta, desprezando completamente o idioma, e o Brasil tende mesmo é ao abismo...”, comenta Manoel chegando de sua sofisticada oficina, na edícola, onde acaba de consertar uma panela para a sogra. Maria considera, divertida, a retomada do assunto, e já dá trabalho a sua divinal caixa pensante, olhando, linda. E glosa o mote. Enter.
“Pois olhe, ó Manoel, acabo de passar em revista as primeiras páginas dos jornalões, e dói ver o horror das imagens da fúria das águas. É um desconcerto feio, uma desarmonia que explode, um caos manifestado. Misturadas a isso, notícias frívolas, como Ronaldinho no Flamengo, Hebe desfilando com não sei quem, Charlie Sheen (quem é esse tipo?) fazendo farra com atrizes e perdendo gravação, Amie Winehouse com aqueles cambitos de sabiá, aquele semblante meio de babuíno e aquela música reles, e ainda falam de o autor de uma novela chula global contrariar o público e, pasme, registra-se em primeira página o primeiro beijo ocorrido naquela nojeira de Big Brother Brasil. Com um painel desses, dá até para considerar que os elementos estejam propensos a fúria, injuriados com tanta devassidão”, considera Maria diante de tal bagaceira. Enter.
“Mas ainda vem a turma católica pra cima da Dilma”, acrescenta a linda, “cobrando não sei o que, besteirada, coisa do caos, e registram-se opiniões de objetos vestidos . Observe só: ‘Parabéns a Igreja Católica por esta iniciativa. Se nada for feito para impedir o ímpeto dessas pessoas, o país e o mundo entrará em colápso total em breve. Essas pessoas que postam estes cometários aqui, são os pobres coitados que vivem em mundo que não existe, que é irreal, e não tem nenhuma responsabilidade na vida. Vivem como verdadeiros animais. Não respeitam nada e nem a ninguém’. Então, ó Manoel: de cara, uma crase vai pro saco, e fica um a maluco pro leitor; depois, um erro de concordância e um acento em colapso, talvez por influência de lápis; depois um este que deveria ser esse, seguido de uma vírgula entre sujeito e predicado; depois, um tem plural sem acento – talvez os filólogos petistas queiram o fim dos acentos, pra facilitar a vida deles; pra finalizar, uma preposição desnecessária, mas que ajuda a empenar a fala. E vêm outros comentários, dolorosos em sua forma: ‘Mobilizar a opinião pública contra instituições sérias que defendem suas opiniões, é simplesmente querer atestar insanidade aos cidadãos de bem’. Esse aí, meu caro Manoel, é possivelmente esquizofrênico: bota vírgula entre oração subjetiva e principal com valor predicativo, ou seja, racha a si próprio ao meio. E outro ainda: ‘Incrível, mas acho que essas pessoas não tem mais o que fazer. Que tal usar toda essa energia para ajudar o próximo, hein? Milhares de pessoas estão precisando de ajuda nas cidades afetadas pelas chuvas.Ah, me esqueci que ser católico não tem nada a ver com amar o próximo...’... Veja só: uma troca de tapas verbais estúpidos, recheados de mancadas: aparece de novo um tem plural sem acento; a forma hein é rejeitada pelos filólogos, que preferem hem; e o fecho é com um escorregão conceptivo: esquecer, em forma pronominal, impõe o uso da preposição de”, comenta Maria com olhar sério e um tanto ausente, superior mas sem empáfia. Enter.
Segundo os iniciados, a convulsão por que passa o mundo é o começo do Armagedon, que seria o evento escatológico, o já temido fim do mundo ou dos tempos; ou, para outras linhas de pensamento, convergentes, a grande purificação. Manoel e Maria, dois estudiosos contumazes, dois apaixonados um pelo outro e pelos estudos, tanto quanto pelos gatos e pela criação de Deus, percebem a grande deterioração em andamento, a marcha da derrocada, e nutrem no coração tanto a esperança confiante na Inteligência como sentem no peito um aperto por pensarem na grande destruição que se avizinha, e que iniciará uma nova era. Então dói nestes dois corações a desagregação de tanta beleza organizada pela mão de Deus e saber que tudo isso, os pássaros, as matas, as flores, os animais, tudo se esfará em fogo e lama, e que dessas formas nada restará. A sequência crescente de desastres ecológicos e os desencarnes coletivos são os sinais do grande desenlace. Também a arrogância dos templos do capitalismo apoiado na usura, a violência das construções de dimensão gigantesca, o desmedido tamanho de aviões que desafiam a gravidade ou de navios que ultrajam a face dos mares, tudo isso a serviço do lucro, do supérfluo ou do desvio da mente humana para a adoração da matéria, tudo será tragado pela fúria dos elementos. Maria e Manoel contemplam tal perspectiva com reverência à grandeza divina, e Manoel considera a irreversibilidade da grande virada lembrando Pietro Ubaldi: “De tudo só restará a idéia!”, cita ele para sua Maria quieta e bela, milagre que Deus deu a nosso herói. Enter final.
“Ó Manoel, nóis vai no supermercado amanhã, que nem nós feiz antes de ônti, mas se ocê quer que eu num vô, traiz pra eu o que era pra mim trazê!”, brinca Maria para um Manoel encantado, pois ela não é dada a troças, especialmente focando terceiros. Mas o amor à correção os faz travessos eventualmente, e os que depredam a si e ao idioma nem sonham que alguém os avalie em oculto. Uma linda saíra azul bica a banana no telhado da edícola sob o olhar vigilante de seu par, azul e negro, o céu sorri. E viva Santo Expedito! Oremos. “Semana que vem nóis se fala!”
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 983 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 532 dias também sob mordaça...
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Manoel e a generalização da estupidez
Frederico Mendonça de Oliveira
“Ó Maria, de que servem organizações lusófonas ocupadas com preservar o Português, se o que acontece direto e reto é a depredação diária e diuturna do idioma através da burrificação coletiva e da estupidez promovida pelo Sistema em todos os níveis?”, pergunta nosso herói a sua amada, que o ouve concentrada avaliando os teores da pergunta. Manoel voltou a mil, depois de um mergulho em estudos transcendentais, de que tirou um belíssimo lastro para seu aperfeiçoamento e de sua linda Maria. Houve um grande salto de qualidade com as grandes descobertas e aprofundamentos, mas cresceu feiamente o abismo entre o casal e o mundo esmerdeado e em galopante desmantelamento que o cerca. E, claro, é um mundo em que o casal não se insere de forma nenhuma, casal cada vez mais fugindo da estupidez generalizada. Bem, vamos ao front. Enter.
“O idioma se depreda na medida exatamente proporcional ao desmantelamento do social. Estão sendo amputados os pronomes oblíquos, por exemplo, não só nestas montanhas apinhadas de macacos sem rabo, de bugres movidos a desejos primários, e essa macacada ocorre em todos os níveis sociais. A burguesia local fala um pouco mais corretamente – ou menos incorretamente – mas não está preocupada com o idioma em si, patrimônio da comunidade que o utiliza, por ser o instrumento que nos expressa. Os objetos vestidos do Sistema falam abertamente ‘E ela não convidou eu pra ir na festa’. Seria correto dizer ‘E ela não me convidou para ir à festa’. A lógica dos ignorantes vai suprimindo tudo que os obriga a pensar ou a lembrar. Eles vão se fazendo entender através de sua rusticidade que sonha não a simplificação, mas a primarização total, pois querem mais tempo de vazio na vida, o que lhes permitirá encher as cucas de mais desejos de matéria e de desejos só desejos mesmo. E assim vão se bestializando e rumando para a comunicação dos animais, que tem códigos extremamente primários e sem mais que, digamos, cinco emissões de significado. Aliás, por aqui se corrompe o idioma pela preposição. Quando comecei a conviver com esses tipos mal falantes, logo percebi o mau uso das preposições. Ir na festa ou no cinema significa ir lá com outra intenção que não participar do que as duas coisas oferecem. Ir na festa seria para fazer outra coisa, como ir verificar, excluído da função, se alguém estava lá e fazendo o quê. Ação de espião, por exemplo; e ir no cinema seria parecido, como ir levar moedas de troco para alguém que lá estivesse, na bilheteria, digamos. Nada de assistir ao filme. E trocar o pronome oblíquo pelo reto é baixar o nível para contornar escolha de correção gramatical. ‘Pra que isso?’, pensam esses pongídeos, que, por outro lado, costumam corromper o oposto: ‘Tinha muita coisa pra mim fazer’. Um pacóvio da imprensa local, por exemplo, que lembra o perfil dos primatas, chafurdava nos erros da publicação, uma farra. Depois, por injunções várias, veio uma purificada na titica, mas o sujeito e seus pares prosseguem toupeiraças nas vírgulas, por exemplo, e as idéias editoriais, especialmente os cabeçalhos de primeira página, são verdadeiros tiros de bestialidade”, considera Manoel, sob o olhar absorvente de sua linda. Enter.
“É uma ruína crescente, e não nos consola Gilberto Freyre dizer que o Português é fadado à extinção por ser complexo demais. Alfabetizado em Inglês, ele fala de cima a respeito do que espera os dois idiomas. Mas não levou em conta, nisso, que a deseducação imposta à Pindorama promove e acelera a depredação. Como conservar um idioma se se destrói quem o utiliza e se é desmontada a estrutura física de sua sustentação, que são a Educação e a Cultura? Não é isso, ó linda?”
E Maria assume: “E o cara que andou presidente por oito anos nesse lugar comentou, a respeito do problema do WikiLeaks, mais precisamente do affair Assange, que o culpado foi o que criou a ‘mensage’, não o que divulgou a ‘mensage’, e isso ilustra o que tu falas, ó meu Manoel”. E fala penalizada com a grosseria que é obrigada a reportar por imposição de ofício, pois abraçou a problemática da Educação como sua atividade. “E tu não vistes uma das chamadas de capa de O Globo de hoje, falando de cruzeiros marítimos – essa nova festa de imbecis turistas navegantes – e dando um soco no olho do leitor?”, e Manoel vai ao monitor olhar, e lá está: “Cruzeiros investem em mordomia 24 horas à bordo”. “Bordo é substantivo masculino, cacilda, e o jornalista não deve saber nem o que é substantivo, e periga nem saber o que é masculino!”, fala Manoel com cara de sacana para sua Maria que lhe sorri de volta com os lindos olhos. “Se o cara vacila já de cara nessa, saberá o que é crase? A menos que alguém lhe explicasse muito bem que ele pode ser um ser craseado, ou seja, que vive duas realidades de condição sexual, ele jamais aprenderá como usar ou não a mistura do a preposição com o a artigo...”, prosseguiu Manoel com mordacidade educada, sob o olhar doce e picante de sua linda. E a conversa vira para questões de preservação e depredação cultural, e a Tailândia entrou em cena como novidade que anda assustando os estrangeiros. Enter.
“A nova mania na Tailândia, naqueles confins asiáticos, é o caraoquê, veja só, ó linda! A palavra vem do japonês, karaoke, formado de kara, 'vazio', e oke, redução de okesutora, 'orquestra'. Ou seja, fundo musical sem canto, ou back ground, ou bg. Isso virou febre lá, e houve uma feia reação: atiradores começaram a ‘coibir’ a prática, em defesa de valores tradicionais da cultura local, que rejeita energicamente essa merdificação do canto, a entrega do microfone para o leigo, para o desejoso de fazer o que sonha e que não tem preparo para fazê-lo. E uma das canções preferidas nessa é ‘My Way’, aquela bosta gravada pelo Sinatra já senil. Então em uma semana foram eliminados literalmente, a tiros, uns 30 caraoqueiros, parece que justo quando cantavam a infamérrima My Way... Que achas disso, ó linda?”, pergunta Manoel. Enter final.
“Digo-lhe, meu Manoel: soa-me que a civilização morre. O progresso tecnológico joga os seres para um passado, bestializa tudo e todos, e a reação a isso tem de ser radical, ou morrerá no nascedouro esmagada pela força do capital cancerígeno. Temos muito a falar ainda sobre isso.”, e Maria leva seu Manoel para lá... E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 974 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 525 dias também sob mordaça...
“Ó Maria, de que servem organizações lusófonas ocupadas com preservar o Português, se o que acontece direto e reto é a depredação diária e diuturna do idioma através da burrificação coletiva e da estupidez promovida pelo Sistema em todos os níveis?”, pergunta nosso herói a sua amada, que o ouve concentrada avaliando os teores da pergunta. Manoel voltou a mil, depois de um mergulho em estudos transcendentais, de que tirou um belíssimo lastro para seu aperfeiçoamento e de sua linda Maria. Houve um grande salto de qualidade com as grandes descobertas e aprofundamentos, mas cresceu feiamente o abismo entre o casal e o mundo esmerdeado e em galopante desmantelamento que o cerca. E, claro, é um mundo em que o casal não se insere de forma nenhuma, casal cada vez mais fugindo da estupidez generalizada. Bem, vamos ao front. Enter.
“O idioma se depreda na medida exatamente proporcional ao desmantelamento do social. Estão sendo amputados os pronomes oblíquos, por exemplo, não só nestas montanhas apinhadas de macacos sem rabo, de bugres movidos a desejos primários, e essa macacada ocorre em todos os níveis sociais. A burguesia local fala um pouco mais corretamente – ou menos incorretamente – mas não está preocupada com o idioma em si, patrimônio da comunidade que o utiliza, por ser o instrumento que nos expressa. Os objetos vestidos do Sistema falam abertamente ‘E ela não convidou eu pra ir na festa’. Seria correto dizer ‘E ela não me convidou para ir à festa’. A lógica dos ignorantes vai suprimindo tudo que os obriga a pensar ou a lembrar. Eles vão se fazendo entender através de sua rusticidade que sonha não a simplificação, mas a primarização total, pois querem mais tempo de vazio na vida, o que lhes permitirá encher as cucas de mais desejos de matéria e de desejos só desejos mesmo. E assim vão se bestializando e rumando para a comunicação dos animais, que tem códigos extremamente primários e sem mais que, digamos, cinco emissões de significado. Aliás, por aqui se corrompe o idioma pela preposição. Quando comecei a conviver com esses tipos mal falantes, logo percebi o mau uso das preposições. Ir na festa ou no cinema significa ir lá com outra intenção que não participar do que as duas coisas oferecem. Ir na festa seria para fazer outra coisa, como ir verificar, excluído da função, se alguém estava lá e fazendo o quê. Ação de espião, por exemplo; e ir no cinema seria parecido, como ir levar moedas de troco para alguém que lá estivesse, na bilheteria, digamos. Nada de assistir ao filme. E trocar o pronome oblíquo pelo reto é baixar o nível para contornar escolha de correção gramatical. ‘Pra que isso?’, pensam esses pongídeos, que, por outro lado, costumam corromper o oposto: ‘Tinha muita coisa pra mim fazer’. Um pacóvio da imprensa local, por exemplo, que lembra o perfil dos primatas, chafurdava nos erros da publicação, uma farra. Depois, por injunções várias, veio uma purificada na titica, mas o sujeito e seus pares prosseguem toupeiraças nas vírgulas, por exemplo, e as idéias editoriais, especialmente os cabeçalhos de primeira página, são verdadeiros tiros de bestialidade”, considera Manoel, sob o olhar absorvente de sua linda. Enter.
“É uma ruína crescente, e não nos consola Gilberto Freyre dizer que o Português é fadado à extinção por ser complexo demais. Alfabetizado em Inglês, ele fala de cima a respeito do que espera os dois idiomas. Mas não levou em conta, nisso, que a deseducação imposta à Pindorama promove e acelera a depredação. Como conservar um idioma se se destrói quem o utiliza e se é desmontada a estrutura física de sua sustentação, que são a Educação e a Cultura? Não é isso, ó linda?”
E Maria assume: “E o cara que andou presidente por oito anos nesse lugar comentou, a respeito do problema do WikiLeaks, mais precisamente do affair Assange, que o culpado foi o que criou a ‘mensage’, não o que divulgou a ‘mensage’, e isso ilustra o que tu falas, ó meu Manoel”. E fala penalizada com a grosseria que é obrigada a reportar por imposição de ofício, pois abraçou a problemática da Educação como sua atividade. “E tu não vistes uma das chamadas de capa de O Globo de hoje, falando de cruzeiros marítimos – essa nova festa de imbecis turistas navegantes – e dando um soco no olho do leitor?”, e Manoel vai ao monitor olhar, e lá está: “Cruzeiros investem em mordomia 24 horas à bordo”. “Bordo é substantivo masculino, cacilda, e o jornalista não deve saber nem o que é substantivo, e periga nem saber o que é masculino!”, fala Manoel com cara de sacana para sua Maria que lhe sorri de volta com os lindos olhos. “Se o cara vacila já de cara nessa, saberá o que é crase? A menos que alguém lhe explicasse muito bem que ele pode ser um ser craseado, ou seja, que vive duas realidades de condição sexual, ele jamais aprenderá como usar ou não a mistura do a preposição com o a artigo...”, prosseguiu Manoel com mordacidade educada, sob o olhar doce e picante de sua linda. E a conversa vira para questões de preservação e depredação cultural, e a Tailândia entrou em cena como novidade que anda assustando os estrangeiros. Enter.
“A nova mania na Tailândia, naqueles confins asiáticos, é o caraoquê, veja só, ó linda! A palavra vem do japonês, karaoke, formado de kara, 'vazio', e oke, redução de okesutora, 'orquestra'. Ou seja, fundo musical sem canto, ou back ground, ou bg. Isso virou febre lá, e houve uma feia reação: atiradores começaram a ‘coibir’ a prática, em defesa de valores tradicionais da cultura local, que rejeita energicamente essa merdificação do canto, a entrega do microfone para o leigo, para o desejoso de fazer o que sonha e que não tem preparo para fazê-lo. E uma das canções preferidas nessa é ‘My Way’, aquela bosta gravada pelo Sinatra já senil. Então em uma semana foram eliminados literalmente, a tiros, uns 30 caraoqueiros, parece que justo quando cantavam a infamérrima My Way... Que achas disso, ó linda?”, pergunta Manoel. Enter final.
“Digo-lhe, meu Manoel: soa-me que a civilização morre. O progresso tecnológico joga os seres para um passado, bestializa tudo e todos, e a reação a isso tem de ser radical, ou morrerá no nascedouro esmagada pela força do capital cancerígeno. Temos muito a falar ainda sobre isso.”, e Maria leva seu Manoel para lá... E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, babes!
Ah! Vale lembrar: estamos sob censura desde 11/04/08, aliás mantida por Gilmar Mendes, e a restrição vai totalizando 974 dias. Abraço pra turma do Estadão, há 525 dias também sob mordaça...
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