Frederico Mendonça de Oliveira
“Será que só a Dilma tem telhado de vidro nessa pinóia de campanha pela Presidência desta Pindorama desvairada, ó pá??”, pergunta (-se) Maria diante de um Manoel interrogativo mas sempre ternamente contemplando sua perfumada flor. “Vamos e venhamos, ó Manoel, isso me cheira a certa campanha asquerosa movida há mais de meio século contra um único nome no cenário mundial, como se esse tão difamado infeliz fosse o responsável por todos os males que assolam este ‘planeta dos macacos’”!, desabafa nossa agora também heroína, que “saiu da lata” e mostra verve e ira santa nas diatribes que de há algum pouco tempo se permite desferir contra a estupidez que reina solta “nefte paíf” e alhures. “Realmente é patético ver a Dilma dançando com o Mercadante, cujo bigodão o Zé Simão define como ‘rodapé de xoxota’ – isso, consideremos, só em caso de um sessenta e nove; em caso de cunilingus, seria moldura de teto... –, e Lula com sua ‘galega’, cenas um tanto pra lá de grotescas... E, Manoel, tu observaste a considerável bunda dela, e a breguice da calcinha marcando as ilhargas sob um jeans (?)? Arre, naquele baile espúrio e estrambótico também se viu o Netinho, ‘cara nova no Senado’ – segundo o ‘Eu não Sabia da Silva’ –, dançando parece que com a Marta ‘Suplício’ Suplicy... E realmente não é isso – não seria justamente o oposto? – o que falta para dar sentido a essa verdadeira suruba política tão horrenda que nos assola! Com mil trovadores e menestréis, estaremos os dois ficando caducos, superados, ou o surrealismo foi instalado de vez como regime político neste lugar de zumbis??”. Enter.
Manoel se encafifa no diuturno ato de remoer e engolir pedrouços, aliás batráquios que nos impingem goela abaixo em bombardeio diário, e a fala de Maria atiça o fogo das indagações sobre os fatos que se vão sobrepondo em camadas como em sedimentação irreversível, fatal. “Estão fazendo de nós precoces fósseis, soterrados em levas e levas sucessivas de fatos que nos isolam e imobilizam! Se não há sequer vislumbre de possível reação da sociedade civil, se as instituições estão infiltradas e cooptadas, senão desmanteladas ou aniquiladas, que tipo de realidade política ou REGIME estamos vivendo? Afinal, diante de uma explosão sucessiva de escândalos, basta o ‘primeiro mandatário’ alegar que de nada sabia, e isso simplesmente encerra o assunto, como se não fosse ele, presidente, responsável pelo contingente de profissionais que trabalham com e para ele??”, considera Maria com irônico leve sorriso, que deixa Manoel meio abobalhado, viajando nos traços helênicos de sua amada. Ela se senta em sua costumeira cadeira ao canto da copa, e logo chega o gato e, ao vê-la ali, ruma direto para ela e pula em seu colo generoso, aninhando-se depois de roçadas afetuosas, ronronando alto. Manoel e Maria se entreolham, o sabiá canta lá fora. Enter.
“E agora temos de parar nossas obrigações e atividades produtivas e fecundas para participar dessa pantomima cacete, dessa comédia sem qualquer hilaridade saudável mas, sim, carregada de conteúdos que vão do cínico ao pútrido, do venal incipiente ao imoral de todo, e temos de interromper nossas ricas atividades nesta vida para nós tão cara e nos misturar com esses conteúdos emporcalhantes e degradantes, que sentido tem isso?? Com que finalidade mergulharemos nessa pinóia que para nós é algo que ficará sempre ao largo, coisa que em nada nos diz respeito e que só nos traz prejuízos e constrangimentos??!! E pensar que outrora íamos votar conscientes de estar contribuindo para alterações substanciais de valores sociais e políticos, nós que sofremos o peso brutal daqueles tempos de ditadura, embora enganados por um lado e por outro - mas era diferente: alí víamos possibilidades de mudanças, apioávamos nomes que perseguiam causas palpáveis, gente que não prometia por prometer, pelo contrário: eram candidatos com real militância e discursos consistentes, embasados em propostas concretas de alteração de rumos sociais e políticos! E hoje, Deus???, que diabos temos hoje aí para nos tirar do sossego de nosso lar??”, pergunta Maria lembrando Castro Alves, poeta que ela admira por sua verve e encantamento. Enter.
“Senhor Deus dos desgraçados/ dizei-me vós, senhor Deus/ se é loucura... se é verdade/ tanto horror perante os céus!”, eis um arrebatamento poético do romântico baiano que muito fundo bateu no coração sensível de nossa heroína. Referindo-se aos horrores da escravatura, a fala pareceu mudar a face daqueles tempos negros, pois, considerando a verdade como sendo a História que está nos livros escolares, veio a Abolição, e pronto: os negros viveram felizes para sempre, livres dos grilhões e da vergasta dos senhores desalmados e insensíveis. Pois eis que nossa Maria hoje, revendo seus conceitos adquiridos outrora, revolve o que se cristalizara como verdade absoluta e depara com outra escravatura, não a das cadeias de ferro e dos pelourinhos, dos senhores e seus feitores ferozes. Hoje a escravatura se dá através do ópio dos meios de comunicação induzindo criminosamente ao cativeiro do consumo e da matéria descartável, da fantasia de vergonhas que esmagam compensadas por imagens de seres ideais intangíveis, mas que todos fingem ser. “Vens observando, ó Manoel, que existe hoje uma inversão perversa? Meninas de 12 vivem a fantasia de serem mulheres de 25, e o fazem de tal maneira, com tal convencimento de si mesmas, que até esquecem seu frescor de juventude púbere e sua ainda viva inocência! E mulheres de 50 se vestem como adolescentes de 18, e de tal forma se imbuem disso que se tornam criaturas frívolas e mesmo negando a si mesmas, enveredando por encenação que nega sua verdade e experiência! Teria isso alguma utilidade? Ou seria mais uma loucura, mais um ‘horror perante os céus’?”, considera Maria com olhar taciturno, em que surge uma beleza nova, a beleza do enfrentamento da dor... Enter final.
“Vamos lá, Maria: decidamos em quem votar, fala Manoel com olhar maroto. Temos escolhas: Tiririca, Netinho, Romário, Marcelinho Carioca, estes no território do circo, do pagode e do futebol. Pois bem, temos mais: Popó e Maguila, astros da pancadaria brasileira, que querem dar porrada intransitiva no seio do plenário do Congresso. É outra escolha. Mas, se quisermos mostrar jogo de cintura, temos a Mulher Pera, a Mulher Melão, temos os irmãos K e L, do KLB, não ficaremos sem representantes desta vez, representantes da vacuidade social, da inconsistência em todos os níveis, mas muito especialmente da completa incompetência revelada desde antes de os admirados seres envergarem o terno-e-gravata para mamar nas tetas da nação depredada ao mais triste quadro de destruição já vivido desde Cabral”. E Maria rebate, meio sorrindo: “Tu brincas, ó Manoel, mas eu choro sem lágrimas a rolar-me dos olhos. Peguemos a lista de nomes indicados por amigos e vamos nos livrar dessa canseira. E voltemos logo”. E viva Santo Expedito! Oremos. Té a próxima, babes.
Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, e que a restrição já vai totalizando 883 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 428 dias...
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