Frederico Mendonça de Oliveira
“Ó Maria, tu te lembras das bengaladas que o Zé Dirceu levou de um belga naqueles tempos do mensalão? Pois veja, ó Maria: estamos diante de um caso absurdo, um enigma, uma loucura! Ouviste, ó Maria?? Ei! Ó Maria?? Não estás me ouvindo?? Passas mal??”, e Maria volve lentamente o olhar vazio e distante para Manoel, que estremece ao ver que ela parece não estar ali, está em outra, viajando, esquecida de quem tanto a ama. E nosso herói se estarrece diante de tamanha estranheza, a de ver sua Maria, sua tão amada Maria perdida em outros pensamentos e ignorando a presença do marido. Aturdido, Manoel fixa nela os olhos arregalados e treme ao considerar que algo se partiu entre os dois, depois de tantas loucuras vividas e enfrentadas em fidelíssima parceria, e o mundo desaba na cabeça já grisalha de um já idoso mas sempre apaixonado. “Será o começo de meu fim??”, pergunta-se o pobre, agora vendo seus alicerces totalmente em risco. “Ó Maria, pode estar faltando pouco para ficares sem mim e parece que me deixas só nesta vida a dois??”, pergunta-se Manoel em silêncio lívido, porque soa em seu coração a hora fatal quando vê nos olhos de sua amada idolatrada uma distância que jamais vira. “Será mesmo o fim, ó Deus??”, rumina em dor nosso herói, ora tonto, ora perplexo, olhar vidrado. Enter.
Yves Hublet foi-se, constatou Manoel através de e-mail que recebeu de um amigo. Chapado, tratou de aprofundar a questão, de buscar mais subsídios. Deparou com uma feia e inaceitável barreira. O curitibano Yves, conhecido até mundialmente por desferir bengaladas na cabeça do corrupto Zé Dirceu em novembro de 2005, deixou o Brasil e foi morar na Bélgica, pois tinha dupla cidadania. Foi-se daqui porque, depois do estrondoso episódio, passou a sofrer perseguição. Estava na Bélgica desde depois das muito bem desferidas bengaladas, mas eis que em maio de 2010 baixou de novo na Pindorama. Veio mexer com papéis para a realização de novo matrimônio – mesmo contando 72 anos. Pois desembarcou aqui, resolveu tudo e passou por Brasília não se sabe pra quê – se foi apenas escala, ou que diabo se deu. Não existe, até o momento, a data da passagem dele pela capital, mas o que ocorreu então é assombroso, senão impensável. Enter.
Ao chegar a Brasília foi preso, ficou incomunicável, adoeceu na cadeia, foi transferido para hospital SOB ESCOLTA (?????) e, em 27 de julho, morreu!!! MORREU!!! Pois engrossa ainda a tão sinistra história: cremaram-lhe o corpo sem obedecer a qualquer formalidade! E eis-nos diante de mais um episódio absurdo em nossa história recente, algo trágico e inexplicável, descabido! Pior: a grande imprensa não diz a respeito um A, simplesmente NADA, NADA VEZES NADA! Pois o senador Álvaro Dias denunciou o fato na tribuna do Senado, a internet registra um intenso movimento sobre a questão, o YouTube apresenta vários vídeos a respeito, e nada sai na imprensa. Estaríamos diante de mais um enigma nestes dias de trevas no Brizêu, país esfarrapado, estraçalhado, esta piada geossocial que se agrava e que a cada dia mostra uma face mais terrível como lugar, como comunidade. A pergunta que corre a rede é: “E a embaixada da Bélgica, não vai perguntar ao Itamaraty que diabo é isso??”, mas até o momento é uma pergunta que ecoa sem resposta nos negros e medonhos céus do Brasil. Também o Olavo de Carvalho abriu o verbo, denunciou o absurdo com a devida acidez em suas palavras, mas tudo leva a crer que fique tudo enrustido como está, porque aos donos da mídia interessa mais a mulher que os iranianos supostamente querem lapidar – e que o “presidente” Lula, num espetacular gesto de grandeza e magnanimidade, quer abrigar da sanha do Islã. Aliás, enquanto ficamos na escuta aguardando notícias do querido Yves, Lula manda seu avião presidencial, o Super 51, buscar no Paraguai o presidente que apresentou câncer linfático para que ele faça a químio aqui, algo que nos parece uma pantomima algo salamaleque: ele faz caridade com o dinheiro do povo, e como se no Paraguai não se fizesse químio como em outro lugar qualquer. Se não fazem, por que tanta mesura? Que pretende esse pícaro pinguço? Por que essa deferência toda ocupando primeiras páginas, transformando um ato que deveria ser cercado de discrição em algo bombástico, em estardalhaço álacre?? Enter.
Pois tudo isso machuca o coração de Manoel, mas agora o bicho pegou feio: o coração de nosso herói acaba de sofrer um golpe formidável, senão letal. “Ó Maria, diga-me, ó linda, que tens???”, mas a pergunta fica no ar, e indiferença é como um canhonaço no peito de nosso herói; ela prossegue como Quincas Borba, “os olhos espetados no ar”. Que estará acometendo a linda Maria?? Simplesmente terá descurtido nosso Manoel, será que estava previsto nas estrelas ela um dia se desligar sem mais nem menos de nosso herói tão apaixonado?? E Manoel tem a impressão de que seu mundo caiu, acabou-se, e que a ele restará sobrevida ao invés de colher os frutos do avanço que sua amada lhe permitiu alcançar na vida, em seus projetos, em tudo que para ele só significa se dedicado a ela e repartido com ela. Algo se quebra no peito de nosso herói, ele sente soar uma torva trombeta, que o sonho de um amor eterno de desfez como fumaça ao vento... E ele se lembra da Tosca, sua ópera do coração, e das palavras de Cavaradossi: “Svaní per sempre il sogno mio d’amore!”, acabou-se para sempre meu sonho de amor! Falta agora a chegada do carrasco informando que lhe resta uma hora de vida e que ele tem direito a um sacerdote... e ele não quer sacerdote, quer apenas que, em troca do anel que é o resto de sua fortuna, o carrasco entregue uma carta a Tosca, sua amada – que haverá de morrer também por ele. Enter final.
Pois dá-se o desfecho: tomada por um estremeção, Maria emerge do esquecimento em que mergulhara e se ergue assustada, perguntando: “Onde estou, ó meu Manoel?? Onde estou??”, e, levantando-se de súbito, abraça-se a seu querido, suave, cheirosa, tépida, fazendo cair dos olhos de nosso herói lágrimas de gratidão a Deus, depois de longos momentos de aflição que sugeriam o fim da vida! – embora para isto nosso herói já esteja pra lá de preparado, tão enojado que vive com a constatação da miséria e da cancerificação de tudo!, TUDO!!! E nossa querida Maria, graciosamente sólida, roliça, estóica, suave, depois de longos momentos ardentemente enlaçada por nosso herói, volta de novo à cadeira e responde a Manoel aquilo que ela própria perguntara: Viajei em lembranças do sofrimento de minha mãe, fui fundo, acabou que me perdi por lá, como que paralisada com tantas imagens de agruras, ó Manoel! Travei, parece!”. Manoel, lágrimas descendo pelo rosto, contempla entre rindo e chorando a dádiva de Deus que é poder viver mais alguns momentos nesta vida com sua amada. Lembrando-se de Orfeu e Eurídice, fica sem fala diante da imagem luminosa e viva de sua Maria. E deixa Yves Hublet para depois, pois para ele não há mais remédio. Agora é só viver cada fração de segundo como sendo uma eternidade feliz e luminosa ao lado de sua linda, até quando puder. E viva Santo Expedito! Oremos. Té pra semana, babes!
Ah! Vale lembrar que estamos sob censura desde 11/04/08, a restrição já vai totalizando 837 dias. Abraço pra turma do Estadão, que também atura isso há 376 dias...
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