quinta-feira, 25 de março de 2010

Manoel e a medalha Santos Dumont

Frederico Mendonça de Oliveira

A “primeira-dama” recebeu medalha de mérito Santos Dumont, causando estupefação em toda a banda saudável da sociedade brasileira e repercutindo feiamente nos meios aeronáuticos do Brasil e do exterior, especialmente na França, que tem no inventor brasileiro um símbolo de grandeza – Santos Dumont voou, pela primeira vez na história da Humanidade, em Paris – que os brasileiros em geral sequer sonham existir. Nossa gloriosa Aeronáutica, reduto de brasileiros digníssimos, de heróis, de desbravadores e de defensores (do que resta) da pátria, faz posição de sentido para que Marisão, mulher sem qualquer talento que não suportar a presença incômoda de um álacre imbecil 24 horas por dia, terá recebido a condecoração alegadamente por “serviços prestados à Força Aérea Brasileira”. Que diabos de “serviços”??? Viver direto e reto no Super 51 acompanhando o apedeuta biriteiro em 102 viagens ao mundo (ou mais de duas por mês, tal como semana sim, semana não) nos 40 meses de desfrute da presidência??. Sem contar, ora pois, as até aqui 283 viagens pelo Brasil, claro... Seria isso o que levou a Presidência a condecorar a ex-dulcorete primeira-dama envolvendo a Aeronáutica em patacoada vexaminosa jamais imposta a esta instituição gloriosa? Enter.
“Pois sim: as imagens que me remeteram são de um grotesco inimaginável, só vendo é que acreditamos!”, considera Manoel analisando os momentos de constrangimento enfrentados pelos oficiais e homens do ar envolvidos nesse absurdo. “É muita humilhação, verdadeira grosseria isso de fazer oficiais e soldados do ar render reverência militar a uma criatura desprovida de qualquer valor que não o simples fato de ser mulher do boneco alçado por forças ocultas à presidência da “república das bananas”!..., conjetura Manoel, apaixonado por aviões desde criancinha e homem reverente diante dos aeronautas, a quem dedica profundo respeito e admiração. “Mesmo tendo havido um homem como o brigadeiro João Paulo Penido Burnier, que ousou tentar manchar o nome da instituição forçando oficiais do Parasar (reduto de heróis, serviço de busca e salvamento da FAB) a praticar terrorismo de Estado mas foi brecado pelo duplamente herói capitão Sérgio “Macaco” Miranda, que se negou a praticar atentados, a Aeronáutica é uma das referências de grandiosidade em nossa história”. Mas Manoel já começa a tornar abrangente a visão que vinha abrigando em seu peito quanto a degenerescência política: “Pelo que tenho visto por aí, amada Maria, não é só aqui o país do desvio de significados essenciais: a Itália de Berlusconi, a França de Sarkozi, os EUA de tantos bonecos obedientes às forças ocultas, a Rússia sempre misteriosa mas sempre adversa, a Inglaterra de Blair e outras incógnitas, a Alemanha amordaçada desde 1945, tudo isso me parece que já era: apenas por lá as instituições ainda são mais estáveis”, define com perspicácia nosso herói, olhando ternamente para o carinho com que o gato mais novo trata sua linda Maria, uma cena comovente de constatação de afeto vinda de um lindo felino. Enter.
“Talvez a medalha tenha sido pelo número de horas voadas pelo mundo acompanhando o molusco”, disparou um brasileiro indignado com tanto descalabro e com tamanho surrealismo. Outro observador classifica a primeira-dama como sendo “primeira-anta” ou “primeira-inutilidade”. Pois, divertindo-se com tão monumental disparate, nosso herói até ironiza com sua amada, que o contempla com leve sorriso aquiescente: “Não, não sacaneiem tanto a pobre”, hilaria Manoel: “Afinal, não podemos esquecer que ela é mártir, basta considerar que... que... Oh, não seria elegante descer a certas cenas...”, e Maria e nosso herói trocam discretas mas gostosas risadas alegres, tendo o gato como fechamento de uma corrente de felicidade e comunhão de amor. E ele volta á carga, recondicionando o discurso de pilhéria: “Ele disse que ‘é homem muito capaz, que não brinca em serviço, pois, tão logo se casaram, a galega já foi ficando grávida!’...”, o molusco”. E Manoel não perde a oportunidade para lembrar a idiotice dessa grosseira fala; “Se ele acha que é muita coisa engravidar a mulher logo depois de casarem, o que ele diria das que são engravidadas antes de casar, hem? Hem?”, e a risada musical de Maria fecha uma linda cena com a presença do gato aninhado em seu colo delicioso. E vai se desenhando um ambiente de “rir para não chorar”, e o gato se harmoniza com a paz da lucidez serena do casal. Enter.
E Manoel discorre sobre a vida de Santos Dumont, um gênio que o Brasil não reverencia nem mesmo conhece – a não ser por logradouros que levam esse nome, como o aeroporto urbano carioca –, e se vê inflamado de entusiasmo relatando passagens da vida do grande brasileiro a sua pequena platéia luminosa de beleza: Maria e Téo, o jovem gato. E como que para completar a reunião de inteligência, beleza e amor, chega o soberano Zulu, o outro gato do casal, por sinal um gigante negro luzidio e cético, arredio por natureza, mas um rochedo de grandeza e beleza, mãe para o mais novo, e ei-lo já sentado majestosa e respeitosamente ao pé da linda e atraente Maria, que tem em seu colo o ainda menino Téo, de menos de um ano, e que combina um branco de algodão com um rajado alaranjado de rara beleza. Enter final.
E Manoel volta à carga: “Além do avião, Santos-Dumont inventou o dirigível, o relógio de pulso, o hangar e o ultraleve, a que ele deu o nome de Demoiselle, por sinal um desenho incomparável pela beleza e elegância!”, entusiasma-se nosso herói, sob os olhares de Maria, Téo e Zulu; Maria, atenta, toda bondade; Zulu e Téo observando a movimentação elétrica da fala de Manoel, que levanta o tom de voz tamanho o entusiasmo de falar sobre um ídolo que venera com deslumbramento. E, para Maria: “Que valor tem esse apedeuta que ocupa a presidência desse país para o qual só deu sua traição? Especialmente se comparando a um brasileiro como Santos Dumont, a insignificância e a miséria desse bugre é de causar náusea... e justamente a sua consorte também apedeuta se concede a medalha de mérito que leva o nome de um dos mais admiráveis brasileiros!” E um silêncio prenhe se sucede a esta fala, silêncio só cortado pelo vigoroso ronron do menino Téo. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

Nota
Faleceu na noite de 25/03/10 nosso amigão e irmão José Gileno Tiso Veiga, trespontano, um irredutível revoltado, homem de imenso coração, diferenciado radical entre os seus, pária por opção, sem outra opção que não se assumir um pária, paradoxalmente apaixonado pelo piano que lhe foi imposto desde criancinha, sublevado contra a sanha de o transformarem em gigante, conflito em pessoa, enfim: um exemplo de insubmissão à intenção de fazerem dele um cooptado.
Depois de décadas se arrebentando em protesto ao infortúnio inoculado, sucumbiu à autodestruição, enfrentando um vertiginoso declínio biológico marcado por duro sofrimento. A etapa final durou em torno de dois meses, tempo em que suas funções foram parando até sobrevir a instalação de um colapso generalizado.
Vá em paz, amigo. Na próxima, em que de novo conviveremos, Deus possivelmente dará a você um caminho de socorro ao próximo, aos sofredores, e a fantasia de grandeza que lhe impuseram nesta vida que você acaba de deixar não atormentará sua nova etapa.

Manoel, Maria e todos os amigos do casal, que o tinha em alta estima e resguardará sua memória

sexta-feira, 19 de março de 2010

Manoel e a loucura generalizada por aí

Frederico Mendonça de Oliveira

“É botar o nariz na rua e lá vem loucura de todos os lados. E mesmo sem sair de casa corremos o risco do mesmo jeito, perigando até ser pior. Basta ligar a TV aberta ou o rádio, por exemplo”, comenta Manoel, ao chegar de uma ida ao centro, com sua lindamente atenta Maria. É que nosso herói precisava de uma nova boceta para moedas, já que a que ele comprara há pouco tempo rebentou-se toda como por encanto. Foi-se o zíper, e as costuras da parte inferior desfizeram-se todas. Aí ficam saindo as moedas e caindo no bolso. “Que ‘grande problema’, isso, grande merda, é só comprar outra. Mas agora o problema é ACHAR outra: não se acha mais em lugar nenhum neste arraial! E uma caganifância dessa dimensão fica alugando o tempo inteiro, basta precisar meter a mão no bolso”. Passando por uma loja que vende só acessórios e bagulhinhos pra mulher, nosso herói é atendido por uma biba distante e desinteressada. Pior: justo ali, no espaço da prateleira onde se encontram as bocetinhas, bate a ventania de um ventilador imenso, e o cliente fica se descabelando e tomando aquele puta pé de vento, além de aturar a má vontade da biba. Conseguindo olhar o que tinha ali de bocetinhas, um monte de porcarias empetecadas com lantejoulas, paetês, vidrilhos e o cacete, Manoel logo tem de se pirulitar do pé de vento e da má vontade do baitola. Enter.
Já meio chamuscado desse fato, Manoel toma o rumo de casa, embora tendo previstas escalas antes de bater em retirada mesmo. E ao passar por uma esquina em que fica uma loja de bagulhos pra mulher, Manoel resolve arriscar achar uma boceta. Entra na loja e faz uma busca pelos incontáveis setores, até que dá de cara com um stand de bolsas e meias bolsas, bolsinhas tiracolo, carteiras... e é surpreendido por uma sirigaita com um sorriso sardônico revelador de vazio mental e espiritual. E lá vem a maldita pergunta: “Posso ajudar em alguma coisa?”, e Manoel ferve por dentro, por ter sido interrompido quando, em paz, já constatara não haver bocetinha nenhuma ali. Sereno mas contrariado, Manoel encara a mocréia e assunta: “Pelo que vejo, bolsas ou bolsinhas para moedas só seria aqui nesse stand, não?”, ao que a metediça responde: “É, é só aí...”. Embaraçado com aquela presença incômoda – ele não pediu ajuda a ninguém, porra!, porra!, pra que vem essa intrujona perguntar a MESMÍSSIMA MALDITA PERGUNTA lançada a qualquer pobre infeliz que entre em QUALQUER MALDITA LOJA NESTE MALDITO PAÍS? E o pior é a cara estranhamente amistosa quando a situação é de assédio ao pobre cliente que quer unicamente ter o direito de fuçar atrás do que precisa E NÃO QUER MERDA DE AJUDA MERDA NENHUMA DE DIABO DE NINGUÉM!! “O pior é que essa infeliz está fazendo o que mandam pra ganhar seu salário merreca, e sabe-se lá que tipo de relação entre patrões e empregados rola numa loja dessa natureza, onde quase toda a mercadoria é para suprir desejos fúteis, sem nada de inteligente...” Então nosso herói resolve trocar uma idéia com a pobre delambida, e cuidadosamente pergunta: “Por que fazem essa pergunta ‘Posso ajudar em alguma coisa?’ em simplesmente toooooooooodas as lojas onde se entra?”. A boboquinha se desconcerta, absolutamente sem condição mental pra responder a um questionamento inesperado e que a obriga a usar o cérebro – devidamente cooptado pelo sistema e com a função definida de não ser usado, de não funcionar. “Não, é que... a gente só quer ajudar... e...” – ao que Manoel considera: “Mas o freguês pode querer somente entrar na loja pra ver as coisas, sem qualquer compromisso, e, quando a vendedora vem perguntar isso, ela atrapalha, porque quem quer ajuda pede! Eu, por exemplo, não estou com pressa, e queria achar uma coisa por mim mesmo, sem ajuda. Se eu precisasse de ajuda, pediria. Eu entrei aqui, verifiquei que não tinha o que eu queria e ia saindo normal. Seria melhor, mais leve, eu não precisaria falar com ninguém nem me explicar, nem ter de me esquivar de receber ajuda.”. Aí a tchonguinha entrou numa de ter razão: “Mas o senhor pode ficar à vontade...”, e Manoel pondera: “Eu ESTAVA à vontade, não precisava SER DEIXADO À VONTADE, entende? Se você me aborda na loja quando eu estou concentrado na procura do que quero e me pergunta se pode ajudar, já me deixou embaraçado. Se eu digo que não preciso, você diz “fique à vontade”, mas eu já não estou mais à vontade: estava quando fazia o que queria, agora estou fazendo o que você quer. Mas ficamos assim. Muito obrigado.” Enter.
Pois Manoel sai meio sacaneado da merda de loja de bagulhos, sacaneado por ter, talvez, embaraçado a pobre infeliz. “Afinal”, ele considera, “a pobre está na batalha; mas esse procedimento comum no comércio hoje revela algo de deformidade geral. Será que os compradores compulsivos – e eles seriam oito em cada dez – são excitados por essa pergunta cínica e aí se realiza o ato do consumo compulsivo, patológico, consumando a satisfação de uma carência?”, e lá vai Manoel passar pelo supermercado, e lá vêm mais loucuras. Basta olhar para os seres se ocupando com consumir, um ato a cada dia mais carregado de uma dependência doentia... e logo nosso herói pega do que necessita e se manda rapidinho dali, deixando para trás a irracionalidade passeando no afã de saciar desejo de consumo. E Manoel sai pra rua lembrando ter visto lá vários seres com camisas listradas, umas parecendo zebras; outras, mandruvás... Enter final.
Pois Manoel topa com o amigo, nosso velho conhecido, e ele revela algo interessante. Um outro amigo, um brincalhão, chegou de visita e soltou uma bombinha no espaço em litígio que confina com a casa do amigo de Manoel. Pois foi admoestado por um morador a quem foi delegada a tarefa de capataz/síndico do pedaço. Outro dia, outro morador passou uma tarde com netos soltando bombas no mesmo lugar, e isso pode. Se é algo relacionado com o amigo de Manoel ou outrem ligado a esse amigo, aí não pode. “Loucura generalizada, eis o que vivemos. E aí, você: posso ajudar em alguma coisa? Não? Então fique à vontade...” E viva Santo Expedito. Oremos. Bye, babes...

sexta-feira, 12 de março de 2010

Manoel e o apedeuta falastrão e de ressaca

Frederico Mendonça de Oliveira

“Se a Rede Globo quisesse, o apedeuta falastrão já teria de há muito sido posto na rua por caras pintadas!”, comenta Manoel com sua amada Maria, que meio a contragosto acaba que se diverte elegantemente, discretamente, com um sorriso um tanto ensombrecido pela constatação da miséria política e social que nos assola. Acontece que Manoel, ao passar os olhos pelas primeiras páginas de jornais on-line, topou com um vídeo na Folha mostrando um dos últimos “discursos” do presidente apedeuta, fala da qual saltam pérolas que, batendo em nossas testas, doem como um cálculo renal cheio de arestas e imenso passando pelo ureter. A fala do trêfego “presidente” no vídeo, combinada com as imagens, causa uma espécie de náusea, aliás já costumeira quando ouvimos o timbre roufenho e hoje paradigmático do cinismo fundamental para a prática aberta do jogo do poder pelo poder. “Ele acha que é um filósofo popular, que tudo que fala é digno de ser considerado publicável como considerações de Lao Tsé, Confúcio, Bernard Shaw ou coisas que tais”, considera Manoel, sempre acachapado com ver as aparições do gaiato falastrão e sempre sentindo estranho constrangimento diante das falas do tipo. Enter.
Pois lembremos coisas. Apareceu na internet um vídeo em que o tagarelão fala sobre problema de poluição. Começa dizendo que Freud falou coisas que o mundo não haveria de entender. “Eu já disse várias vezes: Freud dizia que tinha algumas coisas que a humanidade não controlaria. Uma dela eram as intempéries". E daí o cara destampou para uma verborragia a respeito do motivo do encontro de Copenhagen em 2009, algo de pasmar qualquer ser dotado de um mínimo de informação: Disse, entre outros achados, que a poluição nos atinge porque a Terra é redonda. E empreendeu a viagem pela maionese, informando à platéia que “ela gira”... E quando ele falou na redondeza, apareceu no vídeo, já editado por quem acompanha essa deprimente patacoada, um emblema da campanha da Skol – que desce redondo, embora ele prefira o que desce quadrado ou retangular: uma cachaça. E continuou desfiando uma série de conceitos em seu Português de submundo, assistido por uma platéia que, seguramente, deveria estar perplexa por vivenciar o fenômeno que é um indivíduo desses estar na presidência de um país. Se ali estivessem professores de Geografia, de História, de Português, haveria severo constrangimento e espanto por estar ocupada a cadeira da mais alta magistratura “nefe paíf” por tal fanfarrão apedeuta. Os dois links ao fim deste texto exibem duas visões críticas editadas sobre o absurdo das falas sobre Copenhagen, em que até a locutora da Globo exibe um tom de leve comiseração pelo ridículo verificado e vivido naquele evento. E o terceiro é tema do que se segue. Enter.
Pois o vídeo apresentado na Folha de 11/03 último revela algo que parece uma reunião de gente muito estranha, e tudo fica mais estranho ainda sob as “palavras” do presidente palrador. Ele abre a fala chutando feio: “Quando cheguei no aeroporto”, quando a preposição que conecta o verbo chegar ao objeto (destino) é a. Depois veio "o governador não poder convidar a ministra PRA VIM AQUI. Depois fala: "...eu não queria dar EXPRICAÇÃO, queria dizer que é um desvio de comportamento DE não aceitar as coisas boas...". Dando prosseguimento ao vexame, ele conclui a escatologia verbal em todos os sentidos com um sonoro "REPÚBRICA". E, tirando essas cacetadas, proferidas seguramente sob ressaca, basta ver o aspecto amassado da face do discursador e sua verve inadequada para o momento, houve o fato do ato falho. Ato falho, aliás, que apenas dá continuidade a tantos outros, que fazem a alegria de quem quer ver o PT em ruínas, de quem se diverte com um doidivanas que caiu no ridículo depois de bancar o salvador da pátria por 25 anos, de quem gosta de ver um gaiato de verdade se estabacando diariamente diante de todos. Enter.
Useiro e vezeiro em bravatas ridículas – como dizer que “a Marisa, a galega, foi logo engravidando”, que lástima... –, o trêfego primeiro mandatário de repente, meio que surtando, começou a falar de si, aliás sua mais constante atitude desde que assumiu essa droga em 2002. E aí, diante de uma assembléia de autoridades cariocas liderada pelo Cabralzinho governadô, Lula começou a se gabar de ter aprendido a fazer política na adversidade. Disse seu um “casco duro”, o que dá pra ver só pelo linguajar normalmente chulo, e soltou a frase de efeito – só que se embananou no próprio surto e se contradisse. Afirmou que “se dependesse de levar bordoada, eu não teria chegado até aqui”, coisa por aí. Ora, então ele não levou bordoada! Veja só você: “dependeu de muita bordoada eu chegar até aqui” é o que ele quis dizer, ampliando a noção de ser um casco duro e de ter aprendido a fazer política na adversidade. Nota-se que é um trapalhão, que se mete a dizer coisas impressionantes e acaba invertendo o teor da mensagem, em mais um ato falho. Você lembra de ele saudando o povo venezuelano dizendo “Querido povo de Bolívia”? Ou de quando ele falou que “o que mais despenca neste país é o salário, ops!, a inflação”? Ou quando disse que o governo dele “foi até hoje o que mais combateu a ética!”, quando queria dizer a corrupção? Esta última pérola de mancada ocorreu quando do escândalo decorrente da famosa declaração do Wagner Tiso, aquilo: “Não estou nem aí para a ética do PT nem para qualquer tipo de ética! O que importa é o jogo do poder!”, e aí o trapalhão represidenciável, cheio de 51 na caveira, troca as bolas em meio ao tiroteio. A turma se dobra de rir! Enter final.
E Manoel considera: “Com tanto ‘alpiste’ no quengo, não há quem não troque as palavras, as idéias, as decisões e até as pernas! Mas o pior é que estamos todos sob ele!”, e com um gesto de compreensão e perdão, embora sabendo que isso há de piorar a cada dia, Manoel abre o congelador e puxa uma latinha. E pensa consigo: “Uma loura gelada é uma loura gelada, mesmo um tanto delas é de se tolerar. Mas viver atolado na pinga?? Porra, é um doido!”. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

http://www.youtube.com/watch?v=FHzWORHrKcQ

http://www.youtube.com/watch?v=k0DcY2QNV1E.

http://www.youtube.com/watch?v=Mk4E2RMYaQQ

http://www.youtube.com/watch?v=8iA0I6m6dFk&feature=related

sexta-feira, 5 de março de 2010

Manoel, Jonny Alf e o fim de uma era

Frederico Mendonça de Oliveira

“Terremotos no Chile e no Haiti, furacão na França, não sei mais o que não sei onde, mas esse mundo parece que começa a acabar”, conjetura Manoel sob o olhar lúcido de sua adorada Maria. Claro, foi usado como um traste para satisfazer interesses de uma turma que se acha escolhida de Deus, e agora o bicho Natureza naturalmente começa a reagir na medida da lei divina de ação e reação. Seria o começo da Escatologia? Seria a chegada do Armagedon? Será a consumação do Apocalipse? Pois é: estamos nessa transição, e não há volta. O mundo não se recuperará da ação nefasta do ser humano, que o tratou como puta desprezível, usando-o para um projeto fútil e na verdade criminoso, usando o planeta com desprezo, descaso e até instinto destrutivo do próprio habitat, e agora lá vem retorno. A ação perversa do homem criou um processo sem remédio, e nessa virada o negócio vai ser aturar. E que sejamos nisso pelo menos um pouco dignos: se fizemos ou se só participamos, aturemos o troco irreversível com um mínimo de grandeza d’alma. Basta que olhemos para os carros entupindo as ruas do mundo e reflitamos no grau de estupidez que nos impingiram – e no que concordamos e embarcamos nisso. “O automóvel é o maior inimigo do homem e do mundo!”, declara indignado, quase inflamado, Manoel, recordando que nos 25 anos de Arraial das Bagas as ruas se mostram o oposto do que eram. Em 1984, ruas do centro desertas e ar doce, limpo, até com cheiro de flor das 11 horas logo antes do almoço; hoje, ruas entupidas de carros estacionados em intermináveis fileiras ao longo dos meios-fios e uma procissão interminável de carros se deslocando rumo sabe-se lá a quê. Isso é progresso? Isso é aperfeiçoamento, é avanço social? Isso leva a alguma coisa? Existe um resultado prático objetivo e benéfico em viver com carro e passar a fazer dele um instrumento e um jugo? “Pra que tanto carro, meu Deus?, pergunta meu coração”, considera Manoel parafraseando Drummond naquele Poema de Sete Faces. Enter.
Sim, vão morrendo nosso mundo e nossos sonhos. Morreu o Sena, e o Brasil o enterrou como jamais foi enterrado aqui um herói: com honras de ser divinizado. Foi uma bela patacoada histórica, porque de repente um piloto de corridas virou um deus, e foi aquela manifestação de uma histeria coletiva em que pateticamente o poviléu ignaro descarregou sua frustração social de perda de Estado em cima de um simples – embora eficiente – corredor de fórmula um. Isso é pecado, é demonstração de idolatria cega, de descompensação, de burrice, de ignorância, de tacanhez. E ficou, passado tudo aquilo, um silêncio de parvoíce, um silêncio que sucede a barulhada estúpida, e nunca mais se falou na manifestação de hipertrofia de ídolo e atrofia de adoradores combinadas. E depois foram embora os Mamonas Assassinas, e tentaram fazer outra patacoada do tipo do Sena, mas ficou pífio, e continuamos socialmente frustrados e desamparados, comandados e tiranizados por um bando de crápulas depravados de gravata, “e que tudo mais vá pro inferno”, desde que alguém aqueça alguém nesse inverno, como profetizou o rei da récua brasilis, Robertão (Carlos). E Manoel até para pra pensar que desceu o nível: primeiro, Drummond; agora, o Brasa!... “Eu, hem!”, rumina nosso herói, recordando sua admiração pelo primeiro e seu desprezo pelo segundo. Enter.
Bem, e não há como evitar: o Brasil vai se desfazendo em nada. Acaba de morrer Jonny Alf, prógono da Bossa Nova e da modernidade musical popular brasileira. Morreu pra lá, num absconso, lembrado apenas por gente do ramo, e mesmo assim acontecia de até essa gente ter mudado seu rumo. Jonny Alf, nascido Alfredo José da Silva, foi duramente criticado pelo jornalista e historiador José Ramos Tinhorão, que muitos dizem que senta, o mesmo que dizem do bom Alf. Tinhorão acusava o cantor compositor de ser um músico travestido de americano, a começar pelo nome artístico. Não há esquecer, contudo, que a influência imposta pela indústria anti cultural americana levou muitos artistas a ostentar nomes americanóides, e isso ainda vigora. A despeito de ter havido uma onda de descoberta de nomes tendendo ao engraçado, como Kid Abelha e os Abóboras Selvagens – olha o Kid aí...– e João Penca e seus Miquinhos Amestrados, ainda estão aí coisas como Daniella Mercury, Rita Cadillac, Lincoln Olivetti, sem contar a onda estupidíssima de Daianes, Daises´, Deivissons e Deivids que emporcalha as certidões de dezenas de milhares de infelizes, por sinal nesses últimos casos nomes dados por apedeutas de quinta geração. Enter.
Pois quanto à forma de manifestação vocal meio negróide-americanóide de Alf, Tinhorão que vá se roçar no arame farpado: qual dos dois apresentou títulos imortais a nosso cancioneiro e permanecerá vivo enquanto houver gente pensante operando música e história da música no Brasil? Um pirulito azul para quem disser Jonny Alf. “E para não perder a oportunidade, vá à merda, Tinhorão, e limpe-se com suas próprias folhas!”, considera consigo Manoel enquanto Maria lindamente cuida dos gatos e da copa em que eles vêm se unir ao casal. Enter final.
E prosseguem vivos e produzindo pouco e mal João Gilberto, Carlos Lyra, Roberto Menescal, Oscar Castro Neves e João Donato. É que o contexto corrompe, esvazia, e as coisas não encontram eco fecundo, perdem-se no ar putrefato desses dias de escatologia nos dois sentidos. “Danou-se. Fazer o quê? Se destruíram o Brasil como destruíram, se elegeram Roberto Carlos “rei”, se inventaram breganejo, axé e monstruosidades sonoras deletérias e fizeram isso ser a verdade no país de Tom Jobim e outros gênios, foda-se tudo!”, conclui Manoel enquanto contempla as últimas fotos de Jonny Alf, já velhinho e sempre com aquele ar doce e sereno. “E saiba-se lá que vulcões essa criatura tão gentil abrigou dentro de si!”, pondera. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!