sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Manoel e a orangotanga fotógrafa

Frederico Mendonça de Oliveira

“E daí? Que importância tem isso de uma fêmea orangotango tirar fotos? O Alex Silveira, que está praticamente cego, não é hoje diretor de fotografia e documentários na Globo, e não cobre eventos e mais eventos depois de uma bala de borracha disparada por um gorila da PM paulista lhe arrebentar o olho são? Ora, não há nada de especial em orangotangos fotografarem!”. Pois é: Manoel, um estudioso e pensador, analista rigoroso de seu tempo e iniciando na tarefa de transcendência assumida para no mínimo se realizar em três existências, considera que deve intervir nessa palhaçada de promoverem orangotangos, e essa é a segunda vez que isso acontece neste 2009 esmerdeado por tantas outras titicas elevadas a potências inadmissíveis. Enter.
O outro orangósio que ganhou primeira página na mídia mundial, faz até pouco tempo, foi um que andou assoviando, não se sabendo se continua. Aí fizeram um CD em que aparece o assovio do bicho com fundo musical, e a macacada vestida, essa legião de “humanos” que não volta às árvores por não ter mais rabo, achou isso maravilhoso e comprou o CD para ouvir e mostrar a “novidade”. “Novidade seria vocês voltarem a pensar, macacos vestidos! Novidade é vocês conseguirem retomar qualquer resquício de consciência crítica, imbecis!”, ruge Manoel, pensando na Europa que ele deixou pra trás e onde acontecem esses “fenômenos” em zoológicos que são os territórios de vida real e normal nesse planeta, territórios cercados de estúpidos por todos os lados e sempre invadidos por macacos vestidos que insistem em dar pipoca aos macacos e jogar alimentos para os “bichos” que não pensam, só reagem a estímulos mostrando que nem estão aí. “Bichos que não pensam?? Ora, como se os macacos vestidos pensassem! Rarará! Que piada essa, dizer que ‘humanos’ pensam! Alguns pensam, sim, mas são raríssimos! Quem, hoje, é capaz de entender o que diz o Gilberto Nable? Aliás, que é a poesia do Gilberto Nable senão uma espécie de (nost)algia do pensar – e sentir! – em meio a um oceano mundializado de bestas? Ora, macacos (extremamente mal) vestidos, vejam se me dizem se o macaco real descasca a banana pra comer! Descasca ou não descasca? E por que é que você descasca a banana para comê-la, macaco vestido? A casca é imprópria para a digestão e a alimentação? E por quê? Porque é suja? Porque existe somente para proteger a banana?” Enter.
“Então a macaca fotografa, né? Pior é sermos governados por macacos vestidos, que hoje fotografam também! Qualquer macaco vestido hoje fotografa, e as imagens captadas por eles são tão ou mais primárias que as captadas pela Nonja, a orangósia de Viena! Porque só pode captar algo quem vê conteúdos em algo, e os macacos vestidos de hoje só identificam imagens, senão somente perfis definitórios de funções primárias...”, considera filosoficamente Manoel depois de analisar uma foto tirada pela Nonja, um close acidental sobre a face do filhote e que acabou ficando um poema no que revela uma proximidade inusitada com o universo dos pongídeos... “E o tratador dos antropóides, um macaco vestido sem poesia nas células cooptadas, minimiza não o que acontece com a oranga de câmera na mão, mas mostra apenas que obedece a seus antolhos: ‘Claro que os orangotangos não estão nem aí para as fotos, só sabem que apertando um botão aparece uma uva-passa’. Você não entendeu a poesia e o milagre que é ao apertar um botão com aquele dedo ancestral ‘aparecer uma uva-passa’? Pense bem, animal, na poesia que você criou sem querer! Bem, macacos vestidos não lêem Guimarães Rosa, que observou que ‘Quando nada acontece, está ocorrendo um milagre que não estamos vendo’, não é mesmo ô boneco do sistema?” Enter.
E Manoel recorda a sogra do amigo músico, que passou quase um mês na Europa com o filho, e que respondeu, quando indagada pelo amigo sobre o que achou da viagem: “Vi muita coisa bonita, mas tá tudo igual, tudo lojas com gente comprando bestamente, e o pior é que a maior parte do tempo gasto lá foi em engarrafamentos”. O amigo de Manoel pediu à sogra que trouxesse um exemplar de obras completas do Fernando Pessoa quando passasse por Portugal. Pois ela procurou, procurou, procurou – e só achou um livro lá, uma edição especial de uma parte ínfima da obra. De outra feita, ocorreu o mesmo: uma amiga do amigo passou tempos em Lisboa e não achou nada sobre o grande poeta. “Que Europa é esta, que Portugal é este??”, considera Manoel chapado. Enter.
Esta é a Europa dos globalizadores, grande Manoel! E nela estão as multidões dos globalizados, macacos vestidos e de cérebro em ponto morto para serem conduzidos como gado, não é? “Pois tu pensas que não sei, ó Frederico?? Pensas que não enxergo com nitidez, embora esteja quase cego pela catarata, que existe uma desgraça em marcha por trás desse cenário de miséria que é o mundo chamado de ‘civilizado’? Civilizados são os que estão confinados em zoológicos, porque eles não destroem o planeta, e talvez por isso estejam sendo levados à extinção pelo bípede implume que tem por qualidade ímpar prender e matar seu semelhante... O mundo está transformado em nação sem face onde pululam os goyim... e está no Urban Dictionary que ‘goyim’ dignifica ‘cattle’, e ainda cabe a consideração: ‘Said with contemption’... Que podemos esperar de seres que destroem o mundo, um ser vivo que se dá a esses degenerados para eles simplesmente se empenharem em destruí-lo??”Enter final.
Bem, vamos deixar nossos possíveis leitores certos de que Camões já entrevia isso tudo nos Lusíadas: “Põe-me onde se use toda a feridade/ entre leões e tigres, e verei/ se neles achar posso a piedade/ que entre peitos humanos não achei”.”Procurem compreender melhor os pongídeos, ó macacos vestidos!!”, ruge Manoel de dentro de sua iniciação conduzida por Dion Fortune. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
ATENÇÃO: JÁ ESTAMOS CENSURADOS HÁ 602 DIAS. A CENSURA A O ESTADO DE SÃO PAULO, VERGONHA QUE SOMA 128 DIAS, JÁ ESTÁ CONDENADA ATÉ EM ÂMBITO MUNDIAL. QUANTO A NÓS...

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