Frederico Mendonça de Oliveira
Eu estava meio hipongão em 1971 quando ingressei no grupo Som Imaginário, que reunia uma renca de músicos de duas tendências, uma linha jazz-samba e outra pop-rock. Dentro disso, eu abraçava bem as duas linhas, mas tinha ainda uma forte visão de erudito, acrescida de rica experiência operística. E como não era proibido compor, acabou que meti uns sucessinhos pop com tendências contemporâneas, causando boa impressão no meio jornalístico e musical de verdade, mas sendo ideologicamente ignorado no meio musical em que estávamos inseridos, talvez pela pesada e feia ignorância que grassasse então, da qual a mente de um Pepeu Gomes era paradigma fatal. O pior é que minhas composições não eram tocadas facilmente pelos músicos de então, que praticamente só faziam algo dentro dos limites harmonicamente paupérrimos do blues-rock. Tivemos o apoio do Milton Nascimento, que se limitava quase que exclusivamente ao antigo vínculo dele com o tal de Wagner, hoje “glamurizado” pelo esquema de divulgação que a ex-mulher dele armou em estilo mafioso e que na sucessão presidencial explodiu aos olhos de todos com a declaração do bonitão da bala chita, já com nome artístico Wagner Tiso, declarando que “Não estou preocupado com a ética do PT nem com qualquer tipo de ética: o que importa é o jogo do poder”. O affair Milton/Wagner acabou em Coração de Estudante e, claro, qualquer vínculo, se desse numa canção dessas, melosa e idiota, acabaria em dissolução melancólica e até patética. Inclinado muito mais para o sucesso pessoal que para a música, o Wagner já naqueles dias de chumbo explicitava seu egoísmo sem medidas, aquilo de os fins justificarem os meios. E como já então se vangloriasse de ser cigano, a trapaça e o jogo sempre marcaram sua conduta entre os colegas – que só valiam se o lambessem. E os fracos espíritos que o cercavam consolidaram isso. Formando um time politicamente medíocre e sujo.Acabou que todos regrediram à miséria moral e intelectual que sempre os acompanhou, mas que naqueles dias em vivemos juntos, com as contribuições minha, do Zé Rodrix e do Tavito, fez deles gente um pouco melhor. Enter.
Pois eu compunha com profusão para o grupo, e acabei caindo nas malhas da censura por várias vezes, sendo que até cheguei às soleiras das câmaras de interrogatório, também pelo fato de ter abrigado uma revolucionária gaúcha que acabou caindo nas malhas da repressão. Por ter feito um rock debochado – na verdade, dedicado a um debilóide caipira amigo do Wagner e que vendia ovos no Rio – que terminava com a frase “Eu vou plantar cenouras/ na sua cabeça”, acabei no Departamento de Censura Federal, de onde me safei, depois de uma angustiante tarde entre censores e vítimas deles, por intervenção do tal de Hilton Rocha, conhecido como o bambam paisano do citado departamento. Esse cara disse, quando leu minha letra, que aquilo não tinha nada de mais, tinha até de menos. Essa foi minha primeira experiência com censura, embora até compreensível por vivermos então aqueles dias de enfrentamento entre as execráveis esquerdas e a direita tupiniquim, que não entendemos como foi degenerar daquele jeito. Se era pra peitar os bolcheviques marxistas, essa escória maldita, por que entregaram o país à contrapartida deles, ou seja, aos donos da intervenção midiática internacional? Pois é. Mas, voltando, nada existe de mais safado e escroto do que censura. O tão badalado Roland Barthes, numa frase de efeito dessas tão difundidas para confundir as cucas dos que ousam tentar entender a realidade, expôs uma visão dialética de botequim para considerar censura: “Pior que ser proibido de falar alguma coisa é você ser obrigado a dizer o que não quer”. Muito bem: já vivi ambas as experiências. Uma vez, em 71, quando acompanhava Gal Costa, fui preso no DOPS de BH e sofri uma humilhação de um delegado que me obrigou a dizer uma frase lá. Se não dissesse, ia cair na tortura. Pedi perdão a Deus e disse a frase. E fui liberado. O safado Barthes se referia ao fascismo, que ele combatia na condição de soldado da organização de inimigos da soberania dos povos, já então fadados a engolir o processo de globalização por um lado e do bolchevismo marxista por outro. Enter.
Bem, essas reflexões e lembranças dos tempos de chumbo só levam a uma conclusão: estamos na mesmíssima merda que vivíamos naqueles tempos de ditadura militar, É que a ditadura hoje está até muito pior: basta ver o que resultou em âmbito social da ação do poder civil “reconquistado” em 1985. Vivemos hoje um tempo de cinismo jamais vivido neste lugar desolado que é o Brasil petista: a TV promoveu um emburrecimento e uma apatia que talvez só vejamos ocorrer na África, e nos países mais atrasados daquele sofrido continente. Basta ver que Waldomiro Diniz, Marcos Valério, Delúbio Soares, Silvinho Land Rover, José Dirceu e o próprio Lula estão aí, lampeiros, liberados de seus crimes pela própria máquina da Justiça, operada por um Nelson Jobim... Estamos no país da impunidade, e quem detém poder pode transgredir e delinqüir, porque está no andar de cima, onde a lei não vigora como contra o cidadão comum digno e trabalhador. Vivemos o fim dos tempos, é só esperar o Armagedon. Enter final.
Estou hoje sob censura, como todos sabem, basta ver meu blog. O que fazer? Entregar a Deus, com sua justiça infalível. Quem peca há de pagar por seus pecados. Ou nesta ou noutra vida. É a Lei, não a lei. A lei é o direito da força mascarado, como diz o livro dos globalizadores. Olhos abertos, gente. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Bye, babes!
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