Frederico Mendonça de Oliveira
Assim falava minha avó portuguesa, mulher rigorosa e mesmo irredutível, para chamar a atenção da turma para a torpeza do culto às aparências acobertando uma interioridade vazia ou, pior, uma realidade pessoal deformada pelo vício de qualquer natureza. Era católica, mas não praticante: não só lançava um olhar aquilino ao cotidiano do meio paroquial, cheio de intrigas e fatos impublicáveis, como enxergava com afiado desdém a hipocrisia das papa-hóstia e ratas de sacristia, tanto quanto lia como num livro aberto a verdade escondida sob as saias que acendiam uma vela a Deus sendo praticantes e até carolas mas que fora da igreja não dispensavam uma alcova ilícita. Pois minha avó não suportaria os dias de hoje, porque sua formação rígida nos ditames portugueses e fundamentada em ditados populares de cunho filosófico, mesmo sendo ela ignorante porque de origem humilde, não poderia conviver com a degradação explícita, assumida e miseravelmente promovida por um sistema prostituidor em todos os âmbitos possíveis. Então, os elogios a pessoas de aparência ou reputação de grandeza não a moviam, e cuidadas ou exuberantes aparências não escapavam a seu olhar penetrante e crítico: os pavões e pavoas lhe aguçavam a percepção até olfativa, e seu faro, como o dom de Éaco e Radamanto, decifrava os pães bolorentos ocultos nas belas violas que a quase todos encantavam e fascinavam, fosse ao vivo e a cores no convívio diário, fosse constatando o que aparecia agigantado pela mídia dos magazines difundindo caganifâncias emplumadas. Enter.
Nestes dias de miséria moral e corrupção instituída, dias de Galisteus e Cicarellis, de Lulas e FHCs, de Renans e Nicolalaus da vida, falar de ética é parecido com – ou mesmo igual a – pregar no deserto ou falar do Cristo dentro do prostíbulo – embora nos prostíbulos possamos encontrar mais permeabilidade à palavra do Salvador que nos meios do poder oficial constituído. As Marias Madalenas da vida são incomparavelmente mais sensíveis a um aceno dEle em meio à degradação e para a uma real conversão do que os engravatados aboletados em altos cargos, tanto mais poderosos quanto praticantes de um misto desprezível de pompa e despudor. Minha avó não foi feliz, mas não desceu jamais degraus quaisquer em direção à realização baseada na elasticidade moral. Não buscou na realização material qualquer satisfação pessoal: era espartana e religiosa para com seus deveres. Via a matéria com desinteresse, porque era moldada para simplesmente ser, e ter, para ela, era unicamente uma questão de suficiência. Era como aquela canção portuguesa: “Para que tanta ambição tanta vaidade/ procurar uma estrela perdida/ se as coisas que nos dão felicidade/ são as coisas mais simples da vida”. E assim ela viveu e morreu. Enter.
O Cristo se refere ao “sepulcro caiado” em Mateus 23/27: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas!, pois que sois semelhantes aos sepulcros caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas interiormente estão cheios de ossos de mortos e de toda a imundícia”. Assim é em geral o brasileiro hoje, cinicamente converso ao jugo global e voltado para o universo das aparências, esquecendo de ser para unicamente ter e apoiado nisso como sendo a “filosofia de vida” em vigor! Quanta boçalidade imposta, quanta boçalidade assimilada e aceita! Quanta desfaçatez associada a degradação moral! Quanta permissão para com a deformidade e a corrupção, quanta resistência ao plano ético e ao princípio da retidão moral! Quanta aquiescência para com toda sorte de desvios! Quantos seres perdidos em si mesmos jogando sujamente por considerar, sem pejo qualquer, que estas são as regras! Quantos milhões e milhões de integrados virando as costas para o apocalipse que com sua amoralidade engendram como que semeando tsunamis que, inevitavelmente, virão, para repor o equilíbrio perdido!! Quanta miséria no texto e subtexto da exposição midiática do dia a dia! Enter.
Pois é: o cidadão comum hoje, não só o brasileiro esmerdeado de cima embaixo em todos os sentidos, mas o ser humano globalizado mundo afora, é um pária assumido e basicamente um deficiente por escolha: são todos absolutamente incapazes de desligar a TV! Não podem viver, não podem respirar, não podem dormir, não podem absolutamente nada sem a TV ligada! São objetos vestidos do sistema! Tal deformidade social não pode desaguar senão em catástrofe de âmbito mundial! Aliás, só o fato de o homem estar submetido a esse instrumento de dissolução de identidade e costumes já é a catástrofe em si instalada, apenas ainda sem estrondo! Pela relação espúria do homem com a TV – e com a mídia em geral – corre toda sorte de transgressões e ilícitos! Mas a turma quer mais, quer instintivamente, como o criminoso, que seu crime seja descoberto e quer ser castigado pela lei!... E, como disse através de Hollywood George Stevens, “Assim Caminha a Humanidade”! Pra quem gosta, claro. Enter final.
O leitor de Veja vai me tachar de caga-regras, claro. Ele não vive sem TV, o infeliz, o amputado de sua própria mente. Ser leitor de Veja em si já é uma assunção da negação de seu próprio pensar. Os macacos vestidos e sem rabo não lerão essa fala, óbvio: a novelaiada global lhes é conveniente, confortável: preferem morrer em vida que viver conscientes e pagar o preço dessa consciência. Na verdade, querem é trabalhar para satisfazer ambições materiais, querem é pular quando podem, sentar o toba no sofá diante da TV e fazer tudo como manda o figurino da globalização. Eles formam a argamassa do alicerce da recolonização do Brasil agonizante, da tomada da Amazônia, da manutenção da corrupção como sistema de governo, da transformação do país na pústula inamovível em que pululam como helmintos. Sem saber, são inimigos da vida. Deus não tem alternativa para com eles. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!
sexta-feira, 30 de maio de 2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Lembranças dos tempos de ferro
Frederico Mendonça de Oliveira
Eu estava meio hipongão em 1971 quando ingressei no grupo Som Imaginário, que reunia uma renca de músicos de duas tendências, uma linha jazz-samba e outra pop-rock. Dentro disso, eu abraçava bem as duas linhas, mas tinha ainda uma forte visão de erudito, acrescida de rica experiência operística. E como não era proibido compor, acabou que meti uns sucessinhos pop com tendências contemporâneas, causando boa impressão no meio jornalístico e musical de verdade, mas sendo ideologicamente ignorado no meio musical em que estávamos inseridos, talvez pela pesada e feia ignorância que grassasse então, da qual a mente de um Pepeu Gomes era paradigma fatal. O pior é que minhas composições não eram tocadas facilmente pelos músicos de então, que praticamente só faziam algo dentro dos limites harmonicamente paupérrimos do blues-rock. Tivemos o apoio do Milton Nascimento, que se limitava quase que exclusivamente ao antigo vínculo dele com o tal de Wagner, hoje “glamurizado” pelo esquema de divulgação que a ex-mulher dele armou em estilo mafioso e que na sucessão presidencial explodiu aos olhos de todos com a declaração do bonitão da bala chita, já com nome artístico Wagner Tiso, declarando que “Não estou preocupado com a ética do PT nem com qualquer tipo de ética: o que importa é o jogo do poder”. O affair Milton/Wagner acabou em Coração de Estudante e, claro, qualquer vínculo, se desse numa canção dessas, melosa e idiota, acabaria em dissolução melancólica e até patética. Inclinado muito mais para o sucesso pessoal que para a música, o Wagner já naqueles dias de chumbo explicitava seu egoísmo sem medidas, aquilo de os fins justificarem os meios. E como já então se vangloriasse de ser cigano, a trapaça e o jogo sempre marcaram sua conduta entre os colegas – que só valiam se o lambessem. E os fracos espíritos que o cercavam consolidaram isso. Formando um time politicamente medíocre e sujo.Acabou que todos regrediram à miséria moral e intelectual que sempre os acompanhou, mas que naqueles dias em vivemos juntos, com as contribuições minha, do Zé Rodrix e do Tavito, fez deles gente um pouco melhor. Enter.
Pois eu compunha com profusão para o grupo, e acabei caindo nas malhas da censura por várias vezes, sendo que até cheguei às soleiras das câmaras de interrogatório, também pelo fato de ter abrigado uma revolucionária gaúcha que acabou caindo nas malhas da repressão. Por ter feito um rock debochado – na verdade, dedicado a um debilóide caipira amigo do Wagner e que vendia ovos no Rio – que terminava com a frase “Eu vou plantar cenouras/ na sua cabeça”, acabei no Departamento de Censura Federal, de onde me safei, depois de uma angustiante tarde entre censores e vítimas deles, por intervenção do tal de Hilton Rocha, conhecido como o bambam paisano do citado departamento. Esse cara disse, quando leu minha letra, que aquilo não tinha nada de mais, tinha até de menos. Essa foi minha primeira experiência com censura, embora até compreensível por vivermos então aqueles dias de enfrentamento entre as execráveis esquerdas e a direita tupiniquim, que não entendemos como foi degenerar daquele jeito. Se era pra peitar os bolcheviques marxistas, essa escória maldita, por que entregaram o país à contrapartida deles, ou seja, aos donos da intervenção midiática internacional? Pois é. Mas, voltando, nada existe de mais safado e escroto do que censura. O tão badalado Roland Barthes, numa frase de efeito dessas tão difundidas para confundir as cucas dos que ousam tentar entender a realidade, expôs uma visão dialética de botequim para considerar censura: “Pior que ser proibido de falar alguma coisa é você ser obrigado a dizer o que não quer”. Muito bem: já vivi ambas as experiências. Uma vez, em 71, quando acompanhava Gal Costa, fui preso no DOPS de BH e sofri uma humilhação de um delegado que me obrigou a dizer uma frase lá. Se não dissesse, ia cair na tortura. Pedi perdão a Deus e disse a frase. E fui liberado. O safado Barthes se referia ao fascismo, que ele combatia na condição de soldado da organização de inimigos da soberania dos povos, já então fadados a engolir o processo de globalização por um lado e do bolchevismo marxista por outro. Enter.
Bem, essas reflexões e lembranças dos tempos de chumbo só levam a uma conclusão: estamos na mesmíssima merda que vivíamos naqueles tempos de ditadura militar, É que a ditadura hoje está até muito pior: basta ver o que resultou em âmbito social da ação do poder civil “reconquistado” em 1985. Vivemos hoje um tempo de cinismo jamais vivido neste lugar desolado que é o Brasil petista: a TV promoveu um emburrecimento e uma apatia que talvez só vejamos ocorrer na África, e nos países mais atrasados daquele sofrido continente. Basta ver que Waldomiro Diniz, Marcos Valério, Delúbio Soares, Silvinho Land Rover, José Dirceu e o próprio Lula estão aí, lampeiros, liberados de seus crimes pela própria máquina da Justiça, operada por um Nelson Jobim... Estamos no país da impunidade, e quem detém poder pode transgredir e delinqüir, porque está no andar de cima, onde a lei não vigora como contra o cidadão comum digno e trabalhador. Vivemos o fim dos tempos, é só esperar o Armagedon. Enter final.
Estou hoje sob censura, como todos sabem, basta ver meu blog. O que fazer? Entregar a Deus, com sua justiça infalível. Quem peca há de pagar por seus pecados. Ou nesta ou noutra vida. É a Lei, não a lei. A lei é o direito da força mascarado, como diz o livro dos globalizadores. Olhos abertos, gente. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Bye, babes!
Eu estava meio hipongão em 1971 quando ingressei no grupo Som Imaginário, que reunia uma renca de músicos de duas tendências, uma linha jazz-samba e outra pop-rock. Dentro disso, eu abraçava bem as duas linhas, mas tinha ainda uma forte visão de erudito, acrescida de rica experiência operística. E como não era proibido compor, acabou que meti uns sucessinhos pop com tendências contemporâneas, causando boa impressão no meio jornalístico e musical de verdade, mas sendo ideologicamente ignorado no meio musical em que estávamos inseridos, talvez pela pesada e feia ignorância que grassasse então, da qual a mente de um Pepeu Gomes era paradigma fatal. O pior é que minhas composições não eram tocadas facilmente pelos músicos de então, que praticamente só faziam algo dentro dos limites harmonicamente paupérrimos do blues-rock. Tivemos o apoio do Milton Nascimento, que se limitava quase que exclusivamente ao antigo vínculo dele com o tal de Wagner, hoje “glamurizado” pelo esquema de divulgação que a ex-mulher dele armou em estilo mafioso e que na sucessão presidencial explodiu aos olhos de todos com a declaração do bonitão da bala chita, já com nome artístico Wagner Tiso, declarando que “Não estou preocupado com a ética do PT nem com qualquer tipo de ética: o que importa é o jogo do poder”. O affair Milton/Wagner acabou em Coração de Estudante e, claro, qualquer vínculo, se desse numa canção dessas, melosa e idiota, acabaria em dissolução melancólica e até patética. Inclinado muito mais para o sucesso pessoal que para a música, o Wagner já naqueles dias de chumbo explicitava seu egoísmo sem medidas, aquilo de os fins justificarem os meios. E como já então se vangloriasse de ser cigano, a trapaça e o jogo sempre marcaram sua conduta entre os colegas – que só valiam se o lambessem. E os fracos espíritos que o cercavam consolidaram isso. Formando um time politicamente medíocre e sujo.Acabou que todos regrediram à miséria moral e intelectual que sempre os acompanhou, mas que naqueles dias em vivemos juntos, com as contribuições minha, do Zé Rodrix e do Tavito, fez deles gente um pouco melhor. Enter.
Pois eu compunha com profusão para o grupo, e acabei caindo nas malhas da censura por várias vezes, sendo que até cheguei às soleiras das câmaras de interrogatório, também pelo fato de ter abrigado uma revolucionária gaúcha que acabou caindo nas malhas da repressão. Por ter feito um rock debochado – na verdade, dedicado a um debilóide caipira amigo do Wagner e que vendia ovos no Rio – que terminava com a frase “Eu vou plantar cenouras/ na sua cabeça”, acabei no Departamento de Censura Federal, de onde me safei, depois de uma angustiante tarde entre censores e vítimas deles, por intervenção do tal de Hilton Rocha, conhecido como o bambam paisano do citado departamento. Esse cara disse, quando leu minha letra, que aquilo não tinha nada de mais, tinha até de menos. Essa foi minha primeira experiência com censura, embora até compreensível por vivermos então aqueles dias de enfrentamento entre as execráveis esquerdas e a direita tupiniquim, que não entendemos como foi degenerar daquele jeito. Se era pra peitar os bolcheviques marxistas, essa escória maldita, por que entregaram o país à contrapartida deles, ou seja, aos donos da intervenção midiática internacional? Pois é. Mas, voltando, nada existe de mais safado e escroto do que censura. O tão badalado Roland Barthes, numa frase de efeito dessas tão difundidas para confundir as cucas dos que ousam tentar entender a realidade, expôs uma visão dialética de botequim para considerar censura: “Pior que ser proibido de falar alguma coisa é você ser obrigado a dizer o que não quer”. Muito bem: já vivi ambas as experiências. Uma vez, em 71, quando acompanhava Gal Costa, fui preso no DOPS de BH e sofri uma humilhação de um delegado que me obrigou a dizer uma frase lá. Se não dissesse, ia cair na tortura. Pedi perdão a Deus e disse a frase. E fui liberado. O safado Barthes se referia ao fascismo, que ele combatia na condição de soldado da organização de inimigos da soberania dos povos, já então fadados a engolir o processo de globalização por um lado e do bolchevismo marxista por outro. Enter.
Bem, essas reflexões e lembranças dos tempos de chumbo só levam a uma conclusão: estamos na mesmíssima merda que vivíamos naqueles tempos de ditadura militar, É que a ditadura hoje está até muito pior: basta ver o que resultou em âmbito social da ação do poder civil “reconquistado” em 1985. Vivemos hoje um tempo de cinismo jamais vivido neste lugar desolado que é o Brasil petista: a TV promoveu um emburrecimento e uma apatia que talvez só vejamos ocorrer na África, e nos países mais atrasados daquele sofrido continente. Basta ver que Waldomiro Diniz, Marcos Valério, Delúbio Soares, Silvinho Land Rover, José Dirceu e o próprio Lula estão aí, lampeiros, liberados de seus crimes pela própria máquina da Justiça, operada por um Nelson Jobim... Estamos no país da impunidade, e quem detém poder pode transgredir e delinqüir, porque está no andar de cima, onde a lei não vigora como contra o cidadão comum digno e trabalhador. Vivemos o fim dos tempos, é só esperar o Armagedon. Enter final.
Estou hoje sob censura, como todos sabem, basta ver meu blog. O que fazer? Entregar a Deus, com sua justiça infalível. Quem peca há de pagar por seus pecados. Ou nesta ou noutra vida. É a Lei, não a lei. A lei é o direito da força mascarado, como diz o livro dos globalizadores. Olhos abertos, gente. E viva Santo Expedito! Oremos. ’Bye, babes!
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