terça-feira, 13 de novembro de 2007

A miséria abre as asas sobre nós

Frederico Mendonça de Oliveira

E todos aceitam isso como sendo uma fatalidade irreversível, como se fosse o destino que os céus nos enviam. E todos vão se moldando a isso, se miserabilizando como se fosse inevitável e... natural! Mas não falemos da miséria em que se debatem seres desgraçados nas periferias de capitais e nos morros cariocas, espaços onde convivem o horror existencial da carência perversa e o crime encarniçado que se manifesta como expressão obrigatória da realidade brasileira e mesmo humana – ou como resposta armada desobediente a um sistema comandado por cães sem vísceras. Nem falemos da miséria tétrica do Nordeste assolado pela seca e manipulado por senhores cruéis que obedecem a outros senhores de alhures mais cruéis ainda. Nem falemos da miséria estampada nos rostos e corpos de seres que compõem filas de cem, duzentos metros ou mais, começando à porta de ambulatórios do SUS, ou dos que erram pelas ruas ou se esmagam e emporcalham sob viadutos sórdidos. Isso tudo já conhecemos de sempre, é a desigualdade em si, embora hoje superlativada e imposta como espetáculo horrendo sob seguidos “governos” de sudras ignóbeis engravatados que se assumiram canalhas despreocupados com o que façam ou sejam ou ainda com o que possa advir disso. Isso de brios é fantasia do passado... Enter.
Falemos da miséria branda em sua apresentação e aparentemente inócua e mesmo inocente, e até para muitos agradável, falemos da miséria enfeitada, apelativa, açucarada, colorida, cheia de atrativos para as mentes suscetíveis e indefesas, incluindo nisso, com sanha, deformar as mentes tenras de crianças e adolescentes. Falemos da matéria purulenta oferecida como dieta de “entretenimento” e imposta como padrão cultural pelos mensageiros das trevas. Esta miséria se nos apresenta como guloseimas atraentes, até como coisas apreciáveis, mas só os espíritos avisados detectam a podridão por dentro deste imenso sepulcro tão bem produzido e ornamentado. Como diziam nossos ancestrais portugueses, “por fora, bela viola; por dentro, pão bolorento”. Falemos das enxurradas de fétido exsudato lançadas pelos meios de contra-informação cinicamente considerados como sendo de “comunicação”, e essa inundação programada e realizada pelos globalizadores ocupa simplesmente todo um espaço que seria outrora ocupado por arte e cultura. Hoje é entretenimento, eles mesmos definem o processo com esse nome. Fomos o país de Villa Lobos e Tom Jobim, de Clarice Lispector e João Guimarães Rosa, de Carlos Drummond e João Cabral, de Portinari e Di Cavalcanti; hoje somos o país de Tiririca e Netinho, de Silvio de Abreu e Paulo Coelho, de Gugu Liberato e Leão Lobo, de rapeiros, grafiteiros e borra-tintas aos montes. Somos um país de merda e de merdas, tão eficiente e sem freio qualquer é a ação dos intervencionistas. E pra fundo musical bota um reggae ou um breganojo aí, ô meu! Enter.
O “ministro” da Cultura também é o embaixador do reggae nesta Pindorama esmerdeada. Não é culto, ele, é genial no negócio de fazer canções e muito bem informado. Agora está vivendo uma posição social invejável, é um socialite, e nada contra-indica isso, basta ter estômago e considerar que sempre trabalhou duro e diuturnamente. Só que as aspas para o cargo se devem ao fato de ele não ser um ministro, mas um ocupante da pasta, como de resto todos os outros “ministros” neste país-rebu. O fato de ele ser um grande artista, autor de várias obras primas da canção moderna emepebê, não o qualifica para exercer o cargo, além de não poder fazer praticamente nada em relação a nada. E a culpa não é do ocupante, é da pasta, que não deveria existir num país em que a cultura mesmo está posta fora da lei pelos globalizadores. É uma contradição curiosa. Nosso ministro na verdade não é nosso: é deles. Tenho certeza de que Gil, a menos que odeie Deus, pátria e família, meteria a mão na massa, se a ele permitido fosse. Eis aí a grande piada, que soa como um potente peido que diverte pelo som mas constrange muito pelo fedor. Então a Cultura e a cultura vão muito mal, obrigado. Afinal, em país de analfabetos e analfaburros fabricados aos milhares por dia, pra que cultura? Temos rede Globo, já está de ótimo tamanho! Enter.
Chego à agência central dos Correios e lá está um aparelho de TV sintonizado na Globo. É como metralhar as pessoas onde quer que vão. Elas têm de ser alvejadas. Se o “ministro” aborda isso, vai pra rua em horas. Uma ligação dos Marinho, e já era. Gil cagaria, mas seu projeto pessoal seria arranhado: ele tem que estar intocado para não parecer um “rebelde de merda” como Lobão ou Sérgio Ricardo. E com Lula da Filva não seria diferente: ai dele se abre aquela boca pra conter a massacre contracultural da Globo: cai de maduro, e feio. Aliás, ele está no poder por ser não um pusilânime, mas um reles e abjeto traidor e vendido por ninharia. É um grande impostor, sem caráter nem um pingo de testosterona – não a que move os machos sobre as fêmeas, a “Galega” que o diga, segundo ele eructou aí, mas a testosterona dos homens de palavra, dos homens que têm compromisso com a pátria que os pariu. Enter final.
Considerando esse amontoado de “homens públicos” que ocupam os poderes, concluímos que Kon Fu Tsé, o sábio chinês que os globalizadores apelidaram de Confúcio para associar filosofia a confusão, tinha pra lá de razão: “Se alguém desejar saber se o reino é bem ou mal governado, se a sua moral é boa ou má, examine a qualidade de sua música, que lhe fornecerá a resposta”. E não temos saída: preparemos a próxima vida, que esta já era. E viva Santo Expedito! Oremos. Bye, babes!

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